terça-feira, janeiro 29, 2008

Salvadorenses: encontro em Angola


A emigração em geral e as permanentes mobilizações militares, ocasionaram sempre saudáveis e alegres encontros, entre salvadorenses, por todo o mundo, em locais dos mais frequentados e cosmopolitas até aos mais ignotos e longínquos.
Esta foto é de 1970 e foi tirada em Angola, na paradisíaca ilha do Mussulo.
Como salvadorense residente em Angola, está o Sr. Américo Raposo (em pé, de óculos), com a esposa e as duas filhas. O grupo dos restantes inclui salvadorenses por nascimento, salvadorenses por afinidade e salvadorenses por amizade.
Nos primeiros está este vosso amigo com a mulher e os dois filhos, e a Maria Adelaide Lopes; nos segundos vemos o Adérito, marido da Maria Adelaide, e seu cunhado Narciso Afonso com a esposa e o filho; finalmente, os terceiros são os nossos amigos Zé Catana com a esposa e filha, e o Cleto Lopes, também com sua esposa e filha.
Escusado será dizer que foi um dia soberbo. Escusado será, também, salientar como a distância avolumava as saudades da nossa terra.
Do mesmo modo como o tempo avoluma, agora, as saudades daqueles que já só estão na memória desta fotografia.

sábado, janeiro 26, 2008

Largo Maria Clara da Silva Robalo


No post anterior demos uma mirada para lá da esquina da nossa igreja, e, como quem espreita o passado, vislumbrámos um pouco do que existia no espaço agora com a referência toponímica de Largo Maria Clara da Silva Robalo. Pois as duas fotos que hoje publicamos, de uma procissão de velas, permitem uma apreensão mais completa de como era o local.
Nas duas imagens, que se completam, vemos que o cortejo acaba de contornar a igreja, passa rente à sacristia e vira à direita, dirigindo-se ao «fundo da estrada».
Não sabemos datas das fotos, mas supomos serem dos anos 40, a julgar pela vestimenta de algumas senhoras. E a igreja ainda não fora caiada.
As casas de alvenaria que se vêem já não existem. O acesso ao adro da igreja (e aos comércios ali existentes) ficou impraticável desde o advento das camionetas de mercadorias, e houve que alargar as ruas adjacentes. Mais recentemente, a construção da Casa Mortuária alteraria o resto, nomeadamente os arruamentos à volta da igreja.
Com a demolição da casa do beirado, desapareceu o célebre balcão florido da «Menina Rita», uma simpática e não menos célebre personagem do Salvador de antigamente
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Fotos cedidas por José Manuel Borrego Ribeiro.

sábado, janeiro 19, 2008

Anos sessenta


Esta bela imagem, tirada à porta da Igreja Matriz de Salvador, no início da década de sessenta é um manancial de informação sobre a nossa terra. Como é evidente, o que de imediato nos salta à vista é o simpático grupo de jovens, rodeando uma encantadora noiva. Todas elas estão vestidas a preceito para o casamento, mas a igreja está fechada. Como a noiva morava ali mesmo ao lado, afigura-se-nos que ela quis posterizar-se ali, com o seu grupo de amigas, antes da cerimónia, provavelmente no que seria o seu último acto de solteira. Dispenso-me de as identificar, porque não quero tirar esse prazer aos salvadorenses que nos seguem.
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Naquele tempo a igreja ainda era caiada, e os degraus da porta principal eram outros.
Encostado à parede, nota-se um monte de areia. Obras? Remendos no piso de pedra solta do adro?
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A mulher idosa que espreita o ranchinho traja saia de lã preta, com pregas na cintura, comprida, um pouco acima do artelho; blusa de chita estampada; lenço preto traçado na face por baixo dos maxilares e apertado atrás; meia preta e sapato preto. Pelo trajo dir-se-ia ser domingo ou dia santo de guarda ou, então, a mulher iria «acompanhar a noiva ao altar», como era uso quando as famílias eram mais próximas.
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Finalmente, e não menos importante, a fotografia mostra-nos ainda, para lá da esquina da igreja, um pouco do que era o actual Largo Maria Clara da Silva Robalo. A casa que se vislumbra era, se bem nos lembramos, da família de José Ferreira, pessoa que conhecemos já com bastante idade e um pouco afectada da mente: vivia com a mãe, mas adorava jogar as damas na oficina do sapateiro José Calamote (Zé Violas), onde passava muito do seu tempo. Esta casa (no lugar dela está hoje a casa dos herdeiros de António Amaral) tinha um balcão muito alto. Nesse balcão e no da casa de José Cigano «Barrigudo» (que ficava defronte, onde é hoje a casa de Rui Candeias) – miradouros privilegiados – tomavam lugar as pessoas da terra para verem passar os entrudos, ou assistirem a outros quaisquer acontecimentos ou divertimentos que por ali passassem.

terça-feira, janeiro 08, 2008

A primeira comunhão


Era bastante elevada a religiosidade dos salvadorenses no dealbar dos anos setenta do século que passou. A escola primária era ainda frequentada por grande quantidade de crianças de ambos os sexos. A Escola e a Igreja tinham ainda uma ligação muito forte nas aldeias. O Padre e o Professor eram as personalidades de mais alto relevo e mais respeitadas entre a população, que via nelas a essência da cultura e da educação que pretendia para os seus filhos.
Quando chegava a idade para fazer a primeira comunhão, as mães, mesmo as mais humildes, tentavam arranjar uma roupinha nova e uns sapatinhos em bom estado para o grande acontecimento – que o era, de facto, e não só para os pequenos, mas para os pais, para os professores, para as catequistas e para o próprio pároco.
Era um dia de grande felicidade: um marco na vida duma criança, só comparável a outros tantos marcos que a vida lhe haveria de trazer futuramente: o exame da quarta, o primeiro namorico, a tropa, o curso, o casamento...
A fotografia (frente e verso) representa o dia da comunhão dos meninos e meninas das escolas de Salvador, no dia de Santo António do ano de 1971. Tem dedicatória pelo punho da professora D. Maria Adelaide (a meio da última fila), senhora de grande religiosidade e, então, a mais antiga entre os docentes da terra, desde o falecimento de seu marido, o saudoso professor José Vicente Lopes, em 22 de Agosto de 1969.