quarta-feira, setembro 17, 2008

Tempo de Vindimas


O Salvador de outros tempos foi terra de muito vinho. E de bom vinho!
Quem se não lembra da alegria esfuziante com que o rancho de vindimadores, homens e mulheres, percorriam as vinhas para a colheita dos dourados e maduros cachos, que, cheias as cestas de verga, despejavam na enorme dorna que aguardava em cima do carro de bois?
Quem se não lembra dos alegres homens e rapazes que, calças arregaçadas para cima do joelho, pisavam, compassada e ritmadamente, até noite dentro e por entre cantares e dichotes brejeiros, os túmidos bagos que enchiam o pio de rude granito beirão?
Quem se não lembra do extraordinário e divertido São Martinho salvadorense, de saudosos foliões como o Ti Zé Violas, o Vidal Félix e tantos outros?
Quem se não lembra, enfim, do tempo em que quase toda a aldeia fazia vinho, de pipa ou de barrico, sendo grande ofensa não aceitar «um copito do meu» a essa gente, de tal modo que, ao fim da ronda dominical, já se trocavam os pés e já fluíam as cantigas à desgarrada?
O quadro supra, apesar da sua faceta humorística, deixa bem vincada a importância do vinho nos tempos passados.

terça-feira, setembro 09, 2008

Maria Pires, ou Maria Sabina


Senhora de uma voz espectacular e de uma boa disposição irradiante, presente em tudo quanto fosse rancho floclórico, grupo de cantares ou festa tradicional em que se apresentasse o Salvador, Maria Pires de seu nome de baptismo, mas de todos conhecida por Maria Sabina, foi bem uma das figuras mais representativas da nossa terra, nas últimas seis ou sete décadas de Novecentos.
Nascida em 1907 e falecida já no novo milénio, Maria Sabina veio de uma humilde família salvadorense - a grande maioria! -, daquelas que têm como principal abundância a honra, o trabalho e uma alegria muito grande de viver e de interagir no meio e na comunidade onde se integram.
Maria Sabina nunca chegou a rica, nem sequer a remediada, nem mesmo à literacia, mas o seu saudável sentido de humor, a sua voz límpida e potente, bem como os característicos adufes, que confeccionava com as suas próprias mãos, foram ingredientes vitais de tantos e tantos momentos de cantigas, religiosas ou populares, quaresmais ou carnavalescas, que marcaram tão profundamente o tempo dos nossos avós.

(Foto cedida por seu filho Miguel Pires Costa - o Miguel Sabino, nosso companheiro de infância).