domingo, dezembro 28, 2008

Tropas expedicionárias a Cabo Verde


Este militar, todo vaidoso na sua farda de 1.º cabo radiotelegrafista, é o Henrique Calamote da Silva, filho mais velho do Ti Zé Violas, de que já falámos algumas vezes. A foto foi tirada na cidade do Mindelo, na ilha de São Vicente, em Cabo Verde, no dia 15 de Março de 1942. Decorria, então, a segunda guerra mundial e, apesar de estar de fora do conflito, Portugal entendeu guarnecer, preventivamente, aqueles territórios ultramarinos com algumas forças militares.
Dos nossos cinco anos, recordamos bem as Mensagens de Natal que estes militares mandavam através da rádio, «nova tecnologia» que então despontava nos pequenos centros. Em Salvador havia (creio não errar) apenas uma telefonia em 1942. Tratava-se de um belo exemplar de aparelho, a válvulas, que pertencia ao Sr. João da Cruz Monteiro, que, nas alturas próprias, facultava a sua sala para que se ouvissem as mensagens dos soldados, que os familiares recebiam de olhos simultaneamente arregalados e chorosos:
Beijos e abraços até ao meu regresso...

Ao meu querido mano Henrique, o meu abraço e os meus votos de mais um bom ano novo. Albertino Calamote.

quarta-feira, dezembro 10, 2008

O Madeiro de Natal


Os adros das aldeias e vilas da Beira-Baixa preparam-se, nesta altura do ano, para acolher o tradicional Madeiro de Natal.
O Salvador de outros tempos fez sempre questão de cumprir este ancestral costume, e, quando os rapazes entrados à tropa se atrasavam, logo os homens casados se punham em campo, arregaçavam as mangas, e o madeiro aparecia.
Lembramos aqui um Natal passado em África, no serviço militar, em que jovens salvadorenses, beirões, e não só, procuraram recriar a tradição das suas terras, pondo-se a caminho da mata africana, à cata de troncos secos, que carregaram num camião e depositaram na parada do quartel, num monte enorme, que deu fogueira acesa durante a quadra festiva.
A imagem mostra os pormenores, descritos e publicados, primeiro no Sentinela das Beiras, o jornaleco da Unidade, carinhosamente dactilografado e reproduzido a stencil, e, trinta e tal anos mais tarde, no Jornal do Exército (n.º 432, de Dez95, pp. 34-35).
Poderemos avaliar o «sabor» daquela fogueira, se pensarmos na comunicação que era possível nos anos sessenta: sem telemóvel, sem internet, o veloz correio aéreo levava-nos as notícias da família reportadas à semana (ou à quinzena) anterior.
Tínhamos, enfim, dois anos (pelo menos), para aprender a viver com as saudades em diferido!
– Aos que, apesar de apoiarem as actuais missões de militares portugueses no estrangeiro, olham os antigos combatentes de soslaio – que muitos há ainda – desejamos um quente Madeiro de Natal, o mesmo que a todos os nossos amigos!

sábado, dezembro 06, 2008

8 de Dezembro – Dia da Mãe


Este blogue é do Salvador de outros tempos. Do tempo, por exemplo, em que o dia 8 de Dezembro era dia santo de guarda, consagrado à mãe de Jesus, Nossa Senhora da Conceição, e, simultaneamente, a todas as nossas. Era o Dia da Mãe.
Há uns anos a esta parte muitas coisas mudaram, e a moderna mentalidade consumista transferiu o Dia da Mãe para o primeiro domingo de Maio, a fim de alinhar com a globalização… ou para melhor funcionar o comércio das bugigangas, que caracteriza estes dias festivos!
O Dia da Mãe não é o mesmo, mas as mães também mudaram. Continuam a dar à luz, é certo, mas tudo o resto está mais facilitado, dir-se-ia mais standardizado, nos dia de hoje.
Há o planeamento familiar e a assistência na gravidez; há as maternidades e as cesarianas; há as fraldas descartáveis e os carrinhos de bebé; há as roupinhas para 3 meses, para seis, para 1 ano, para 2…; há os infantários e as pré-primárias; há os leites em pó e as papinhas em frascos; há as aulas de piano e de violino; há a natação e o karaté; há a televisão, os computadores e a play station; há a internet, o telemóvel, o MP3, o Ipod, o Messenger, o Hi5, o cinema, os centros comerciais, as trotinetas, as motos e os carros, as discotecas, os shots, etc, etc.
Ah, mas as mães de hoje trabalham; as de outros tempos estavam em casa!
Parecerá um lugar-comum, mas dantes a coisa era outra, bem mais natural, bem mais pura, bem mais humana. Elas, as mães doutro tempo, aturavam-nos dia e noite, todos os dias e todas as noites; faziam a nossa comida com os alimentos da horta ou da mercearia davam-nos o leite do seu peito, ou, se este secava, o de cabra ou o de vaca; faziam as nossas fraldas de pano, sempre lavadas e sempre reutilizadas; faziam a nossa roupinha toda, a nossa bata da escola ou a nossa saca dos livros; faziam as nossas meias de algodão com as cinco agulhas que giravam nas suas mãos de fada, ou tricotavam as nossas camisolas de lã, grossa e quentinha; faziam as nossas mantas a partir de tiras de trapos ou de ourelos; baixavam ou subiam as bainhas das nossas roupas; remendavam-nas ou aplicavam-lhes umas joelheiras ou umas cuadas novas; viravam do avesso um casaquinho do filho mais velho, e ajeitavam-no, para ser usado e rompido pelos irmãos mais novos...
Pois é, as mães de antigamente não trabalhavam!
Salvé dia 8 de Dezembro, dia da mãe de Jesus, dia da minha mãe, Dia da Mãe!

Imagem de título: 8 de Dezembro - Dia da Mãe [Visual gráfico. - [S.l. : s.n., D.L. 1955]. - 1 imagem : color. ; 12x10 cm http://purl.pt/12503. Lisboa, Biblioteca Nacional Digital.
Imagem da senhora a fazer meia: com a devida vénia, reproduzida de http://tricotadeira.wordpress.com/2008/01/12/

terça-feira, dezembro 02, 2008

Quem são os dois meninos?


Quem são os dois meninos tão atiladinhos, de camisolinha branca, de jaquetinha e calções, de sapatinho e meia alta, que vão chegando ao «fundo da estrada», bem pelo centro da mesma, e todos compenetrados?
A avaliar pela suas sombras, diríamos que se estava no princípio de uma manhã radiosa de sol, e que, à sua esquerda, ainda não havia quaisquer edificações. A vestimenta sugere-nos que são meninos de cidade, possivelmente em férias. Transportam qualquer coisa na mão direita. Terão recebido uma prenda? Vão à missa ou à catequese?
Também não sabemos a data da cena: terá cerca de meio século. Quer a galinha, quer os petizes, não parecem preocupados com os automóveis na estrada... A paisagem de fundo alterou-se entretanto: o aterro e o muro fronteiros à casa deram lugar, há já bastantes anos, a uma fiada de novas moradias, à frente das quais haveria de passar a «estrada nova», para Monsanto.
Em conclusão: não sabemos a idade exacta da foto, nem conhecemos os jovens – agora, sem dúvida, respeitáveis anciãos – que lhe conferem humanidade. Porém, temos a certeza, isso sim, de estarmos perante mais um momento singular da vida de Salvador, e de um documento onde pode ser «lido» mais um importante capítulo da história da nossa terra.
Esclarecimento posterior:
O «menino» mais pequeno, então com 6 e agora com 74 anos, é o José Geraldes Pereira de Carvalho. Tinha vindo de Vale de Prazeres, com a família, para se fixarem em Salvador por alguns anos. Os pais tinham um comércio ao Fundo da Estrada (Era o Sr. Aires e a Sr.ª Laura, esta natural da nossa terra, irmã do também comerciante, na Rua da Cinza, José Robalo da Cunha Pereira). Tinham mais 2 filhos: o Aires e a Margarida (?).
O Zeca – assim o conhecemos – esteve pelo Salvador até aos 17 ou 18 anos, estudou, formou-se em Direito e foi para Moçambique, donde voltou só em 1981.
O outro «menino» é o Manuel da Cruz Monteiro, e a foto será de 1940/41.
Foto cedida por José Manuel Borrego Ribeiro.
P.S. Agradecemos os comentários do Geraldes de Carvalho. Já visitámos o seu blogue, mas não descortinámos o contacto. Pedimos-lhe que, em novo comentário, nos indique o seu e-mail, ou, se preferir, nos contacte para a.calamote@gmail.com.