terça-feira, agosto 10, 2010

A Farda


A farda foi sempre um sinónimo de autoridade e de respeito, pese embora poder também ser associada a regimes políticos autoritários e que se fazem respeitar pela força.
Quando eu era rapaz, andavam fardados os militares, os guardas e os polícias, os funcionários dos comboios, dos eléctricos e dos autocarros; os do correio e dos telefones, os padres, os taxistas, os moços-de-fretes, os cauteleiros e tantos outros profissionais de então. Tempos houvera, de resto, em que até os deputados usavam o seu próprio uniforme...
A farda era, assim, considerada factor de grande prestígio e de honra para a instituição que representava; era motivo de considerável apreço para os cidadãos que se reviam nas suas virtualidades nacionais e sociais; e era condição de inegável garbo, mas também de muita responsabilidade, para os agentes que as envergavam.
Depois do «25 de Abril», as fardas foram desaparecendo, porventura em nome de complexos de antigo regime, ou de modernos conceitos de igualdade e de liberdade, que, entre outros «benefícios», nos impediram de passear, à tardinha ou à noitinha, calmamente, pelos jardins e pelas ruas; de dormir de janela aberta ou com a chave na porta, sem que sejamos barbaramente assaltados, apesar de, é bom que se diga, podermos expressar-nos (quer dizer refilar) sem nos levarem presos.
A imagem é do dia do casamento do meu irmão Aníbal, há sessenta e tal anos, em Nisa, envergando, na mais importante cerimónia da sua vida, a farda de jovem guarda-fiscal.

segunda-feira, agosto 02, 2010

Fundo da estrada e Cimo da serra


Quando era miúdo, adorava ir brincar para o «fundo da estrada», porque era ali onde a garotada se juntava ao fim da tarde, para as correrias diárias, que duravam até à chamada para a ceia.
Passados alguns anos, as brincadeiras infantis já não ficavam bem e o divertimento passou para o «cimo da serra»: os grupinhos sentavam-se pelos barrocos que ladeiam a estrada, a dar vistas para o Campo Frio, contando anedotas e cavaqueando, durante o cair das tardes, por vezes até noite dentro.
A maioria dos salvadorenses sabe que o «fundo da estrada» é o troço que vai desde a igreja até onde agora é a Junta de Freguesia, e que o «cimo da serra» é a zona da portela da estrada de Salvador quando acaba a subida e começa a descer para Aranhas.
Sempre me fez muito confusão dizerem que o «fundo» era da estrada, e que o «cimo» era da serra. Ninguém me deu uma razão, mas há razões aparentemente sem razão nenhuma!
Ah! A foto é no «cimo da serra», em 1957. Vêem-se três jovens, o Henrique Leitão, o Zé Manel Robalo e eu (o Zeferino Afonso não se vê porque foi o fotógrafo), e dois aspirantes a jovens, os meus primos Zé Manel e Manel António, filhos do meu tio/primo José Arraquel, aos quais, só por isso, consentíamos que ouvissem as nossas conversas de gente crescida.