terça-feira, novembro 30, 2010

«Sarra-se» a Velha


«Sarrar a velha» era um costume muito antigo de Salvador, que consistia numa espécie de serenata destinada a satirizar e a arreliar certas mulheres idosas, já pouco simpáticas de beleza e conhecidas por se irritarem facilmente.
Homens e rapazes folgazões, muniam-se de cortiços de abelhas vazios, que friccionavam com um sarrafo (pau rugoso), produzindo um ruído ensurdecedor e irritante. Aos gritos «sarra-se a velha!, sarra-se a velha!», juntavam grande algazarra de vozes, latas e chocalhos. A chinfrineira obrigava a visada a vir para a rua a gritar com eles e a expressar a sua ira com a «malandragem», que assim atingia os seus objectivos de obrigar a pobre velhota a saltar da cama e a apanhar tamanha «braveira» e irritação.
Pode parecer agora absurdo, mas as pessoas não se escandalizavam com estes actos de chacota e de aparente má-educação perante pessoas idosas, quase sempre escolhidas entre as mais desfavorecidas e sozinhas: era a tradição que, ao tempo, imperava, e fazia parte das diversões inocentes e costumeiras, sempre aguardadas, com ansiedade, na altura própria de cada ano.

Foto: Prof. José Vicente Lopes (1897-1969)

sábado, novembro 20, 2010

Gente bonita de Salvador


O nosso Salvador foi sempre uma terra de gente bonita, e temos hoje mais uma prova disso.
O menino da imagem é o nosso amigo e companheiro de infância Alcino Lopes, que ali faz companhia a sua irmã Alice; as restantes meninas são a Ilda Gonçalves, a Augusta e a Alice Afonso, a Patrocínia Ferreira, a Lurdes Leitão, a Ilda e a Fernanda Silva, a Milúcia, a Alda e a Dulce Frederico. Na fila detrás figuram, «cortadas», mais três pessoas que não conseguimos identificar.
A fotografia é de cerca de 1950 e foi-nos facultada pela Ilda Gonçalves.

sábado, novembro 06, 2010

1890 – Escola em Salvador


1890 foi o ano do ultimato britânico, contra o qual reagiram os Portugueses em geral, e, particularmente, Alfredo Keil e Henrique Lopes de Mendonça, que, nesse ano, compuseram a famosa peça musical que incitava os patriotas «contra os bretões, marchar, marchar», a qual, duas décadas depois, os republicanos adoptariam como o Hino Nacional, sendo, posteriormente, substituídos os «bretões» pelos «canhões»...
Não imaginamos, hoje, como viveria, o Salvador de 1890, tal afronta por parte dos nossos mais antigos aliados, mas podemos ver, através dos mapas da imagem, que, na nossa terra, os meninos e as meninas já iam à escola e em número bastante razoável, tendo em conta o «obscurantismo» que os republicanos apregoavam, referindo-se à fraca alfabetização do país.
Como se vê, a freguesia já tinha um professor, Manuel Vicente Moreira (1868-1941), natural de Salvador, e uma professora, com quem veio a casar, Júlia Maria Rodrigues da Silva, que aqui exercia o magistério.
Manuel Vicente Moreira viria a revelar-se um salvadorense muito ilustre, pelo que uma das ruas de Salvador ostenta o seu nome.