sábado, dezembro 03, 2011

Passeio ao Bom Jesus do Monte

Mais uma fotografia da rica colecção da Severiana Candeias Lopes, cedida através do seu irmão Libério, e mais uma lembrança dos bons velhos tempos de Salvador. Desta vez, a cena é de uma viagem de passeio a Braga, no início dos anos sessenta, e a imagem foi captada junto a uma das formosas fontes que se distribuem ao longo da imponente escadaria do Santuário: a Fonte das Cinco Chagas.
O homem do chapéu é o Severino Rodrigues Reboredo , encarregado das minas de Salvador, (ao tempo já prestes do fim da exploração); acompanham-no a esposa, Teresa, e Ascenção Filomena (o sujeito de gravata seria o motorista (desconhecido) da excursão. Do outro lado, a jovem Severiana Lopes, de perna traçada, tem atrás de si o Sebastião Lourenço (marido da Ascenção), a Severiana Justino, a Lurdes Arrojado e sua mãe, Bárbara; falta o pai, Júlio Arrojado, que, presumo, terá sido o fotógrafo.
O casal de mineiros gozava de grande consideração e simpatia, e ainda residiu vários anos na nossa terra após a desactivação das minas, tomando conta das instalações. Eram naturais de Barcelos, pelo que não custa a crer que tenham sido eles os inspiradores do passeio, que nós aqui recordamos meio século depois.

sexta-feira, dezembro 02, 2011

Casamento em 1943

É de um belo dia de 1943 esta bela imagem que fixou para a posteridade o casamento da Adosinda Martins e do António Augusto Carvalho.
Já lá vão quase sete décadas, pelo que, no ajuntamento que vemos à saída da igreja de Salvador (ainda com os degraus da entrada em meia lua), poucas pessoas conseguimos  identificar, para além dos noivos, obviamente. O Padre Jaime Soares Ribeiro, então pároco na nossa terra, tem à sua direita Raul Raposo e, a espreitar atrás do seu ombro esquerdo, a Alice Peres. À direita do noivo, José Robalo e, fardado, o guarda-fiscal Domingos Lopes, que tem pela mão o seu filho Libério (nosso particular amigo e também já septuagenário), que nos facultou esta  deliciosa imagem.  De resto, apenas rostos não totalmente desconhecidos, mas não por nós identificáveis.
Ainda algumas palavras sobre os noivos, para dizer que fizeram toda a sua vida em Lisboa e tiveram uma filha, a Manuela, uma simpática jovem do nosso tempo. Passavam todas as suas férias em Salvador, e o Sr. Carvalho – assim o conhecíamos – apesar de natural do norte do país, era grande amigo da nossa terra, desfrutando de grande consideração e popularidade entre a população. Como registo curioso, o facto de ser do sr. Carvalho uma das primeiras máquinas fotográficas pessoais que apareceram no Salvador.

segunda-feira, novembro 28, 2011

Pelos anos sessenta

Pelos anos sessenta, era o Salvador uma aldeia bastante povoada (1344 habitantes pelo censo de 1960, contra 477, pelo censo de 2011), e com uma população relativamente jovem. Por aquele tempo, as escolas,  que hoje fecharam por falta de alunos, estavam, então, pejadas de garotada, muito bem entregue aos – salvo erro – três professores a leccionar na nossa terra.
As fotos que se seguem vieram-nos do conterrâneo Libério Candeias Lopes, da parte da sua irmã Severiana. São de 1962, ou próximo disso, e transmitem uma rica amostra de uma parte importante da juventude salvadorense, nomeadamente aquela que mantinha o tradicional hábito domingueiro do passeio ao cimo da serra, do magusto ou do piquenique, da tertúlia animada ou dos meros lavores e rendinhas, afazeres caracteristicamente femininos, que já as nossas mães e as nossas avós usavam para ocupar os momentos de lazer.
Na impossibilidade de nomear todas as personagens, indicaremos as que conseguirmos (salvaguardando a hipótese de errarmos na identificação), e deixaremos aos nossos amigos do Salvador Barquinha d’Oiro, o encargo de fazerem o resto.
Quanto a nós, os jovens são: a Isaura Candeias, a Natália, a Severiana, a Idalina Cristovam , a Maria Helena, a Rosa Carrondo, a Celeste Vinhas, a Agostinha, a Emília Serrano, a Mimi, a Edite, a Manecas, o Zé Alberto, o Frederico, a Aida, a Lurdes, a Stela, o Tomé, o Manuel Amaral e...

sábado, novembro 12, 2011

Casamento em Salvador

O dia 3 de Agosto de 1958 foi o dia mais feliz da Lurdes Leitão e do Manuel Sebastião, dois amigos nossos muito estimáveis, que aqui vemos à saída da igreja de Salvador, acabadinhos de casar.
Tivemos o gosto de acompanhar a Lurdes, há poucos dias, na passagem do seu 80.º aniversário, com a sua família e muitos amigos. O Manel, infelizmente, deixou-nos há mais de trinta anos, ainda bastante novo e no início duma promissora carreira profissional.
A Lurdes ficaria com o encargo de criar, sozinha, os quatro filhos menores do casal: a Fátima, a Filomena, a Fernanda e o Nelson. Tarefa gigante, mas que confirmou, na vida real, as excepcionais qualidades de grande mulher já então bem visíveis. E as agruras não foram poucas: além do marido, a Lurdes ficaria ainda sem o seu menino, com trinta e poucos anos, sem um irmão, sem os pais e, ainda recentemente, sem o genro, que deixou a Fernanda como jovem viúva.
Tentando decifrar a foto, temos, nos adultos e à direita da noiva,  seu irmão Ismael e cunhada Alda; entre os noivos, a Maria Augusta, então namorada e futura esposa do autor do blogue; à esquerda do Manel, a Maria Amaral e o Alfredo, irmão do noivo.  Quanto às crianças, parece-nos que sejam o Zé Manel e Alice, irmãos Amaral/França, a Severiana Candeias Lopes , a Manecas e o Zé Alberto, irmãos Vicente Lopes, as irmãs Maria do Céu e Idalina, sobrinhas da Maria Augusta. Do lado esquerdo, e de chapelinho, julgamos ser a Zezinha, sobrinha da Alda.
A foto é da Sevieriana Lopes e foi-me cedida pelo seu irmão Libério.

sexta-feira, outubro 28, 2011

No tempo do Subsídio de Férias

Decorria o longínquo verão de 1980 e a minha família (o Zé estava a fotografar ) regressava de umas felizes e retemperadoras férias, gozadas num parque de campismo algarvio.  A segurança rodoviária aconselhava que se descansasse durante a viagem, e nós aproveitámos para apreciar a beleza da planície alentejana.
Estava gasto e usufruído o subsídio de férias da família para aquele ano.
Como os tempos mudam!
Vem isto a propósito da prometida retirada do referido complemento nos próximos anos, com o seu muito provável e consequente desaparecimento definitivo. Coisas dos tempos!
Se, actualmente, a conjuntura é de uma estranha crise, que nos empobrece, oprime e compromete o futuro, no início dos anos oitenta vivia-se uma esperança radiante e criam-se seguros e estáveis os amanhãs. O próprio subsídio de férias, dizia o Decreto-Lei 496/80 (ano das férias da imagem), em seu artigo 17.º, deveria ser «inalienável e impenhorável»…
Eram outros tempos.

segunda-feira, setembro 05, 2011

Figuras de Salvador – Adelino Justino


Foto de 2007
O Adelino Lopes Justino é um dos poucos rapazes do nosso tempo que construiu o seu futuro sem ter que abandonar o seu Salvador. Hoje com 75 anos, lá encontramos o Adelino, no seu posto, cada vez que nos deslocamos à terra, onde já pouca gente conhecemos, uma vez que já  pertencemos à «geração em extinção», e os mais novos já cresceram fora das nossas vistas. O Adelino lá nos espera sempre, firme que nem uma rocha, apenas com um acentuado deficit de cabelo e um visível superavit de barriga. Mas, disso, não podemos nós falar!
Mas o que Salvador barquinha d´oiro – blogue do Salvador de outros tempos queria dizer-vos, é que o Adelino merece ser aqui muito justamente homenageado pelo seu notável percurso profissional, momeadamente nas áreas comercial e dos transportes públicos, que levou o nome da nossa terra através do país e de boa parte do estrangeiro.
No comércio, trabalhou o Adelino em muitos e variados ramos (mercearia, café, electrodomésticos, combustíveis, lazer, etc), predominando a cafetaria.
Extraordináriamente inteligente, perspicaz e inovador, ele foi pioneiro, em Salvador, de vários sectores. Foi dele o primeiro estabelecimento de café, onde viria a disponibilizar o primeiro televisor, o primeiro gravador de bobinas com vista à propagação de som amplificado (festas, bailaricos e afins), a agência de jogos da Santa Casa, o local de pagamento da luz, da água, dos telefones, etc., para além do local de demanda de informação e de aconselhamento a que muitos conterrâneos recorrem, dados os vastos conhecimentos e experiências do nosso homem.
Nos transportes, o Salvador deve-lhe a primeira praça de táxis fora da sede do concelho, em 1961, serviço de um valor inestimável, sobretudo naquele tempo em que rareavam os automóveis particulares e as alternativas, em urgências, era quase nulas.
Chamamos a atenção para a foto que inserimos, que foi presente dos filhos e agora decora gande parte duma parede do Café do Adelino, a qual, com a imagem dos táxis que passaram pelas suas mãos desde 1961, documenta o caminho já feito, os milhares de quilómetros já vencidos e, evidentemente, as múltiplas peripécias que decerto ocorreram neste meio século de estrada..
Se quiserem saber mais, encontrarão uma interessante reportagem, de Jolon, no Jornal do Fundão do dia 12 de Maio de 2011.

domingo, agosto 28, 2011

Santa Sofia e José Candeias da Silva

A aproximação de mais uma festa de Santa Sofia , a romaria por excelência de Salvador, sugere-nos a obrigação de pensarmos as coisas boas da nossa terra, que não só nos preencheram a infância, como nos acompanharam em muitos momentos marcantes da nossa vida já adiantada.
Duas dessas referências agradáveis, e, por isso, permanentes, que nos têm seguido, são, sem dúvida, a festa anual dedicada a Santa Sofia, e o contacto, durante boa parte da juventude, com a extraordinária figura que foi José Candeias da Silva – o senhor Candeias.
A Santa Sofia, pela magia  e pela ansiedade com que todos os salvadorenses se guardam para despejarem, no primeiro fim-de-semana de Setembro, todas as saudades da terra; o senhor Candeias, por configurar, especialmente para os que o conheceram, um misto de sábio e de louco, que um arrevesado destino impediu que constituísse, hoje, enorme mais valia e uma importante referência pessoal e cultural que muito faltam ao nosso Salvador.
(Veja mais, sobre José Candeias da Silva em: Albertino Calamote, Salvador Barquinha d’Oiro – o tempo dos nossos avós, Lisboa, Edições Colibri, 2009, pp. 56-64).

segunda-feira, agosto 22, 2011

1949 em Salvador

Esta é mais uma foto cedida pelo Zeferino Afonso, das várias  que recebeu após o falecimento de sua madrinha, Drª. Hermínia Miguel Borges, filha do Cabo da Guarda Fiscal Zeferino Miguel, que passou grande parte da sua vida prestando serviço na nossa terra.
Foi tirada em 1949, num típico balcão de granito.
A Hermínia, então com vinte anos, é a da esquerda, seguindo-se-lhe vários membros da família Amaral, pessoas sobejamente conhecidas do Salvador. Trata-se dos irmãos Adozinda, Maria e António Amaral; de Artur, marido da primeira, e, acompanhando os tios, do jovem José Manuel, filho de Manuel Amaral e de Elisa França, que não figuram na imagem.

segunda-feira, julho 25, 2011

O primos Calamotes

Toda a minha vida me lembro desta fotografia estar numa moldura pendurada na parede da sala da nossa casa. Ela retrata os primos Calamotes, uns primos muito considerados pelos meus pais, que eu ainda conheci e recordo com muita saudade. Não andarei  longe da verdade se afirmar que data, pelo menos, de 1940.
Não saberei dar muitos pormenores sobre o parentesco: sei apenas que não eram primos em primeiro grau, apesar de ele se chamar José Calamote – o mesmo nome de meu pai. A esposa era Maria de Andrade. Moravam na Rua da Salgadeira, no canto em frente da antiga escola feminina. Não tinham filhos, mas criaram consigo uma afilhada (Maria), que é também de família Calamote, e que veio a herdá-los.
José Calamote era reformado da Guarda Fiscal e era homem de um porte imponente: alto, forte e bem-posto, como, de resto, a imagem bem mostra.
Estão ligadas a este casal gratas recordações da minha infância, porventura até as mais remotas que conservo. Mantenho ainda indeléveis os agradáveis serões de inverno que frequentemente íamos passar à casa deles, os quais começavam sempre pelas conversas sérias, próprias das vidas e das preocupações dos adultos, mas que, passado algum tempo, e perante a minha impaciência, davam lugar às larachas, aos contos e às histórias que eu tanto gostava de ouvir. Acontecia, ainda, ser convidado a emparceirar  no jogo do burro com que invariavelmente acabavam o serão. Este era um jogo de cartas que consistia em livrarmo-nos das cartas que tínhamos na mão, porque acumularíamos um ano de burro por cada uma que não conseguíssemos descartar.
Eu era bem pequeno, mas eles davam-me grande atenção e eu mantenho-os vivos na minha memória passados todos estes anos.

terça-feira, julho 05, 2011

Anos sessenta em Salvador


Estas fotografias são de cerca de 1960 (mais ano menos ano). Mais de cinquenta anos passados, não me recordo com segurança do acontecimento que terá ditado estas poses, mas  julgo poder identificar todos os ali presentes (da esquerda para a direita).
1.ª foto
Padre António Robalo Ramos, pároco de Salvador,  António Clemente (representante das máquinas Oliva, que ministrava cursos de bordados às moças de Salvador), Cabo Zeferino, comandante do posto da Guarda Fiscal de Salvador, Hermínia Miguel (filha do Cabo Zeferino), António Araújo (agente da Oliva em Penamacor), José Vicente Lopes e sua mulher Maria Adelaide Gamelas Lopes, ambos professores em Salvador.
2.ª foto
À frente: Eu próprio, Zé Alberto Lopes, Zé Manel Robalo, Frederico Nuno Lopes e Tó Vicente Gameiro; ao meio: Henrique Leitão, António Clemente, Cabo Zeferino, José Robalo da Cunha Pereira e Padre António Robalo Ramos; atrás: Ismael Leitão e Helder Lopes.
O Salvador de hoje não se compara com o dos anos sessenta, nem, obviamente, se revê nas rústicas construções de alvenaria que servem de cenário de fundo às imagens.
O xisto e o granito das paredes eram, de facto, escuros e pardacentos, em contraste com os edifícios coloridos e vistosos de agora, mas o nosso horizonte, esse, era bem mais luminoso e radiante que o actual!
As fotos agradeço-as ao Zeferino Afonso.

sábado, junho 18, 2011

Guarda Fiscal de Salvador

Este verdadeiro tesouro fotográfico parece representar um momento de grande importância para a força constitutiva do Posto da Guarda Fiscal de Salvador, dado o ar festivo e a solenidade da pose.
O uniforme de gala, os instrumentos musicais e os «palhinhas» também não enganam ninguém: era dia de festa, por qualquer motivo! E não falaremos das respeitáveis e quase uniformes bigodaças!
Infelizmente a imagem não está datada, mas estimamos que será, muito provavelmente, dos anos quarenta (decorria a guerra civil espanhola), altura em que as localidades raianas, como o Salvador, suscitavam grande atenção do poder no controlo e na repressão do contrabando. O facto de apenas identificarmos - com segurança - um elemento, reforça a ideia de que a foto não será mais recente.
Com efeito, só conhecemos o 1.º Cabo Zeferino Miguel, o segundo da esquerda, na fila da frente, que era o comandante do posto. Poderão também estar, entre outros, José Afonso, António Vaz Leitão e Domingos Lopes, que, à época, já estariam a prestar serviço em Salvador.
O Cabo Zeferino deixou a fotografia ao seu afilhado Zeferino dos Santos Afonso, a quem agradecemos a sua cedência.

sexta-feira, junho 10, 2011

José Manuel Marques

O Zé Manel nasceu em África, mas andou em Salvador na escola do professor José Vicente Lopes, nos anos quarenta-cinquenta, tal como nós. Tinha uma doença grave, de insuficiência cardíaca, que actualmente teria cura, mas que, naquele tempo, preconizava vida breve, como veio a verificar-se.
O Zé Manel  era um rapaz franzino, macilento, de grandes olheiras e lábios roxos, mas muito educado e que facilmente fazia amigos. Chegava às aulas sempre extremamente cansado, motivado pela cruel doença, mas também devido à localização da nossa escola, quase no cimo da serra.
O Zé Manel, que deixou muitas lembranças nos seus companheiros de escola, era da família dos Caiadinhos (neto de Manuel Martins Caiado – o «caiadinho»), uma família exemplar de gente honrada e boa e com muitos membros emigrados em Angola.
Os documentos que se publicam foram-nos cedidos pelo Zeferino dos Santos Afonso e encontravam-se no espólio documental de Hermínia Miguel Borges, filha de Zeferino Miguel, que exerceu em Salvador, durante muitos anos, as funções de comandante do posto da Guarda Fiscal, e ambos já falecidos.  O cabo Zeferino, vizinho e amigo pessoal dos Caiados, era uma pessoa extremamente arrumada e meticulosa, como se pode aferir pela anotação supra.

terça-feira, junho 07, 2011

Homenagem aos antigos combatentes do concelho


A imagem representa o imponente monumento de homenagem aos antigos combatentes do concelho de Penamacor, cuja inauguração teve lugar no passado dia 1 de Junho de 2011. O evento, já esperado há vários anos, foi, enfim, concretizado, muito pelas insistentes diligências da comissão instaladora encabeçada pelo nosso conterrâneo e amigo de infância, prof. Libério Candeias Lopes, as quais mereceram o apoio de diferentes entidades e o alto patrocínio da Câmara Municipal de Penamacor e do seu presidente, dr. Domingos Torrão.
A escultura, em granito e ferro policromado, é da autoria de Mestre Eugénio Macedo, que lhe atribuiu o título de «Três Faces».  Assente sobre um plinto de base triangular, que simboliza os três ramos das forças armadas, o alçado compõe-se de três lajes graníticas onde se recortam os contornos de cada uma das três ex-colónias perdidas: Guiné, Angola e Moçambique, representando, os respectivos vazios, as mortes e outros sofrimentos físicos e psíquicos causados à geração que sofreu a guerra.
Encimam o conjunto três chamas – verde, vermelha e amarela –, aludindo ao fogo das armas e às cores nacionais.
Porque a vocação deste blogue se situa no «Salvador de outros tempos», entendemos que este acontecimento, referindo-se aos conturbados anos sessenta e setenta, tem aqui perfeito cabimento.

segunda-feira, maio 30, 2011

Rancho melhorado


Ao aproximar-se o dia 1 de Junho, data da inauguração do monumento aos antigos combatentes do concelho de Penamacor, nada melhor do que a preparação de um belo rancho melhorado, preparado com todo o requinte, na sumptuosa e moderna cozinha da Companhia, a qual, como se vê, está equipada com o mais avançado material hoteleiro, desde enormes travessas, grandes tachos, panelas e panelões, bancadas e bancos, até ao sofisticado «barbecue grill».
A cena passa-se por volta de 1970 e o prato do dia é leitão assado com batatinhas alouradas. Esperamos que o apetitoso petisco tenha sido acompanhado com uns copinhos de tinto «do puto»... para desenjoar da cerveja.
O «chefe» é o Adelino Gonçalves Calamote, filho dos meus estimados e saudosos primos Henrique Calamote e Arminda Gonçalves. A fotografia mandou-a ele aos «queridos tios», meus pais, que a tiveram religiosamente exposta num quadro da parede, até que a casa entrou em obras. Herdei-a eu.

Um grande abraço, caro primo!

quinta-feira, maio 26, 2011

Guerra do Ultramar



Inaugurar-se-á no próximo dia 1 de Junho, em Penamacor, o monumento em homenagem aos combatentes da Guerra do Ultramar. Fará nesse dia 36 anos que desembarquei em Lisboa, vindo de Angola, de regresso da minha última comissão militar.
Nesse dia de 1975, a escassos meses de o Alm. Leonel Cardoso, Alto Comissário e Governador-Geral de Angola, proclamar a independência daquele território de administração portuguesa, o meu estado de espírito era de muita confusão e de bastantes incertezas.
Como profissional, cada vez que regressava começava a contar os dias que faltavam para a comissão seguinte. Desta vez não seria bem assim. Mas como seria, então?
Foram 500 anos de uma realidade a que nos habituáramos. Como evoluiria agora?
Fosse como fosse, uma forte esperança envolvia, com o seu enorme manto verde esmeralda, as imensas dúvidas e interrogações que se punham à nossa frente.
E vem o recurso à poesia… mesmo que pretensiosamente invocada.

segunda-feira, maio 23, 2011

Programa da inauguração do Monumento aos Combatentes



Salvador Barquinha d'Oiro, tem a honra e o orgulho de mostrar, acima, o programa da inauguração do monumento de homenagem aos antigos combatentes do Concelho, que terá lugar em Penamacor no próximo dia 1 de Junho, com as honras adequadas.

Velha aspiração de todos quantos deram o seu contributo ao chamamento da Pátria, e que já desesperavam de ver, no nosso concelho, a respectiva concretização.

Ela chegou, agradeçamos aos que a tornaram possível, e mostremos o nosso agrado, «tirando» o dia 1 de Junho aos nossos afazeres e ócios, e dedicando-o a confraternizar, à volta do monumento, com os antigos camaradas, e/ou seus familiares, e a evocar e honrar os mortos.

Avancemos, todos, ...mais esta vez!

sexta-feira, maio 20, 2011

Antigos Combatentes



Falta pouco mais de uma semana para que os antigos combatentes do concelho vejam inaugurado o memorial que assinala, e de certo modo premeia, um esforço hoje considerado sobrehumano, levado a efeito pelos rapazes da terra, nos anos mais doces e pujantes das suas vidas: um esforço que foi também das famílias, em especial das mães, das esposas e das namoradas, que foram abruptamente amputadas dos seus membros mais queridos e indispensáveis.

As guerras são ordenadas pelos políticos eminentes, mas feitas pelo povo humilde e anónimo.

Quando se trata de avançar para a batalha, é «rapidamente e em força»; porém, quando se deve reconhecer o sacrifício feito – que de muitos foi penoso e marcante, e de alguns foi da própria vida – já os políticos tergiversam, regateiam, adiam...

E, para termos direito ao monumento que vamos inaugurar, foi preciso passar meio século desde que o «Niassa», o «Vera Cruz», o «Ana Mafalda», o «Pátria», o «Angola» o «Índia», o «Carvalho Araújo» e tantos outros navios da nossa (saudosa) marinha mercante, começaram a levar e a trazer mancebos de então e anciãos de hoje, para as quatro partidas do mundo, onde, segundo os mesmos políticos, se continuava Portugal.

Mas, ainda assim, este «finalmente» só aconteceu agora porque alguns de nós, antigos combatentes, como o Libério Candeias Lopes, meteram mãos à obra – e os pés à parede, como se costuma dizer.

A eles dedico o pôr-de-sol que trouxe do caminho maritimo descoberto 463 anos antes pelo antigo combatente português Vasco da Gama.

domingo, maio 01, 2011

Geração de Combatentes



A chamada Guerra do Ultramar, iniciada há meio século e terminada em 1974, fez da minha uma geração de combatentes. A última vez que Portugal tivera uma geração de combatentes fora entre 1917 e 1918, na 1.ª Grande Guerra: a geração do meu pai, que esteve lá, no Corpo Expedicionário Português a Moçambique.
Julgo que o Poder Político da época não terá tratado brilhantemente a geração combatente do meu progenitor, mas nunca me constou que tivesse achincalhado o voluntarismo patriótico dispendido por soldados, sargentos e praças, ou depreciado o esforço militar desenvolvido por todos, como fez com a minha própria geração; como, também nunca me pareceu que, frequentemente manifestasse públicas simpatias pelo inimigo de então e exaltasse as deserções e o incumprimento de missões de que, muitas vezes, resultaram mortos e feridos do nosso lado, como sucedeu desta feita.
Também do ponto de vista de honrar os antigos combatentes, com um simples memorial comemorativo que fosse, é de todos sabido que complicações, que entraves e que morosidades isso comporta nos nossos controversos tempos, – aliás bem injustamente, porque as consciências contrárias ao envio de tropas para o antigo Ultramar Português, são as mesmíssimas que mandam tropas para missões de guerra em países estrangeiros, sem quaisquer laços patrióticos, linguísticos, ou outros, connosco…
Já escrevi sobre isto em «A Bósnia e a lição da Guerra do Ultramar», publicado no Jornal do Exército, n.º 432, Dezembro 1995, p. 4).
O concelho de Penamacor terá, enfim, em 1 de Junho próximo, o seu monumento aos Combatentes do Ultramar!

sábado, abril 23, 2011

23.º 23 de Abril





Partiste há 23 anos, num dia 23 de Abril.

Era um dia de calendário como o de hoje; era um dia de luz e de flores como o de hoje; era um dia que só a partir de então eu me apercebi de que o mês de Abril me não largaria nunca mais.

sábado, abril 09, 2011

Manuel Sebastião (1930-1978)


Salvador Barquinha d’Oiro vem hoje recordar o Manuel Sebastião, um saudoso amigo e dedicado salvadorense que a morte ceifou na flor da idade. Era filho de Ascenção Filomena e de Sebastião Lourenço, agente da PSP em Lisboa, e tinha um irmão mais novo, o Alfredo, que também viria a falecer muito cedo. Manuel Sebastião seguiu a carreira militar, foi sargento e oficial, fez comissões nas antigas possessões ultramarinas da Índia, de S. Tomé e Príncipe e de Moçambique, e tinha a patente de tenente quando a morte o surpreendeu, em 9 de Dezembro de 1978, vítima de doença grave. Era casado com Maria de Lurdes da Cunha Leitão, filha do guarda-fiscal António Vaz Leitão e de Celeste Cunha, um casal de monsantinos que passou boa parte da sua vida na nossa terra. Com um casamento perfeito, a Lurdes e o seu Manel tiveram quatro filhos: a Fatinha, a Meninha, a Fernandinha e o Nelson, os quais ainda eram bastante jovens quando o pai morreu: 19, 17, 16 e 15 anos, respectivamente. O Manuel Sebastião era um homem extremamente optimista e bem disposto, que colocava acima de tudo a sua família, os seus amigos e a sua terra. A sua despedida, tão dramática e extemporânea, foi uma perda irreparável que deixaria profunda saudade à família e aos amigos. E a Lurdes, a acrescentar à penosa viuvez, ver-se-ia a braços com quatro filhos na fase mais importante e dispendiosa da sua formação, a exigir esforço permanente e entrega total. E como se não fora ainda sofrimento bastante, teria que confrontar-se, alguns anos depois, com a morte do Nelson, o tão aguardado «rapaz após três meninas», que também nos deixou tão precocemente: aos 33 anos. Há gente para quem os desgostos são visita frequente, e para quem a memória é um sagrado relicário das afeições e das saudades. Recordar é viver – diz o ditado – e recordamos hoje o Manuel e o Nelson Sebastião, que assim vivem em nós e nos acompanham. E deixamos, também, o nosso abraço solidário aos que eles cá deixaram, principalmente à Lurdes, pela esposa, pela mãe e pela amiga extraordinária que sempre soube ser.

quinta-feira, março 10, 2011

Aos Antigos Combatentes


Salvador barquinha d'oiro cumprimenta a Comissão, desejando um enorme sucesso na concretização da feliz iniciativa, e solicita, encarecidamente, o maior interesse e o maior carinho dos seus leitores para o importante e patriótico evento.
Não faltemos, pois, no dia 1 de Junho em Penamacor!

terça-feira, fevereiro 08, 2011

Lagar do Seabra


Esta foto de 1973, regista uma procissão que vem da capela de Santa Sofia para a igreja matriz de Salvador. O cortejo passa no «Fundo da Estrada» e o grande edifício de alvenaria que se vê em fundo é o Lagar do Seabra.
A nossa terra era, naquele tempo, grande produtora de azeite, dispondo de nada menos do que quatro lagares. Os outros três eram o Lagar do Dr. Júlio, no complexo a que pertence o actual Centro de Dia; o Lagar do Meio, no edifício da nova padaria/confeitaria «O Lagar»; o terceiro era o Lagar Fundeiro, cujo edifício foi recentemente adaptado para alojar o moderno minimercado «Sabor Popular».
O Lagar do Seabra, seria, alguns anos depois, completamente demolido para dar lugar à construção de casas de habitação, não deixando qualquer vestígio para os nossos dias. Era, de todos, o mais antigo e o único que laborava apenas com recurso à força animal, além da humana, evidentemente. Tratava-se de um tradicional «lagar de varas», ainda à boa maneira romana, em que as forças se conseguiam à custa do emprego das leis físicas básicas e das chamadas máquinas simples.
A azeitona, triturada pelas galgas puxadas por juntas de bois, era, em seguida, colocada em sucessivos capachos circulares, depois empilhados e sujeitos ao peso de um enorme tronco de árvore – a vara –, que assim espremia o precioso líquido.
A azáfama que ali se verificava num dia de trabalho era coisa muito bonita de se ver e nós, jovens da altura, ficávamos ali horas a fio, embasbacados, perante a agitação de homens e animais, e perante a monumentalidade daquelas varas de tamanho e envergadura impressionantes.
Aos jovens de agora, recomendamos vivamente a visita a um Lagar de Varas, por exemplo à vizinha povoação de Idanha-a-Velha, que tão bem o soube preservar, num belo museu que lhe dedicou.

A fotografia é do conterrâneo José Morais, a quem peço me desculpe a usurpação.

segunda-feira, janeiro 10, 2011

Salvador em 1937


O documento que aqui se reproduz, e que se encontra no Arquivo da Comissão Fabriqueira da Igreja de Nossa Senhora da Oliveira, matriz de Salvador, é o balanço das contas da festa de Santa Sofia em 1937.
Pelos números envolvidos, podemos ver como eram modestos os festejos, comparados com os de agora. O mesmo não poderá dizer-se da religiosidade, que era, na altura, a componente fundamental da romaria, nomeadamente através do recurso a pregadores afamados, vindos, muitas vezes, de longe.
Elementos da maior importância eram, também, os foguetes e a música que animavam a festa. Certas despesas, como as refeições do fogueteiro e dos músicos eram asseguradas pelas casas mais fartas, que acolhiam um ou mais desses elementos às suas mesas (a inclusão da despesa de dez escudos nas contas deve-se, certamente, a qualquer caso extraordinário).
Uma menção especial para os festeiros e subscritores do balanço – Manuel José Gonçalves, Rui Lopes e José Cristóvão Júnior, homens que eu ainda bem conheci.
Trata-se de três grandes salvadorenses, três homens honrados e notáveis da nossa terra, que muito deram ao Salvador e aos seus conterrâneos, no desempenho de várias funções cívicas, nomeadamente as de Regedor da Freguesia, que era uma autoridade do tipo policial, autêntica, eficiente e gratuita, nas freguesias, figura essa que viria a desaparecer em 1976, na sequência da Constituição da República.