domingo, março 29, 2009

Fotografia «a la minute»


A fotografia «a la minute» ainda era uma das grandes curiosidades no nosso tempo de criança.
As pessoas que queriam tirar o retrato encostavam-se muito direitas e quietinhas à parede, que estava protegida com um xaile ou com uma coberta, para o fundo ficar mais bonito. A câmara era uma vulgar caixa de madeira, montada em cima de um tripé. Tinha uma abertura atrás, coberta com um pano negro, e outra, pequenina, à frente. De lado tinha uns painéis para publicitar os retratos. O artista encostava a cabeça à abertura traseira, cobria-a com o pano escuro e, quando via que as pessoas estavam prontas, tirava a cabeça para fora e dizia para os fregueses: –
Olha o passarinho!
E premia uma bolinha de borracha que tinha na mão e estava ligada por um fio à câmara. Depois metia as mãos lá dentro, sempre fazendo escuro com o pano, e tirava de lá uma cartolina impressionada em negativo, que depois colocava em frente da lente, a uma distância de alguns centímetros.
Curiosamente – e isso fazia-nos imensa impressão –, ele punha a cartolina com as pessoas de pernas para o ar...
Após mais um clique na borrachinha, e breves minutos de espera, retirava uma tina com a foto mergulhada num líquido, primeiro branca e começando aos poucos, como por magia, a aparecem os contornos das imagens, até, finalmente, surgir uma bela fotografia que nos deixava de boca aberta.

Na foto acima, tirada em 2 de Novembro de 1936, José Calamote («Violas») tinha 43 anos; a mulher, Maria Lucinda, 39; o seu filho do meio, Aníbal, fazia 15 no dia quinze desse mês.

segunda-feira, março 23, 2009

O «Cimo da Serra»



O «cimo da serra» era/é, no Salvador, o ponto em que a estrada passa a portela do Cabeço do Ferro e começa a descida para a aldeia vizinha de Aranhas.
Dali se desfruta uma vista privilegiada. Para um lado o Salvador, o cabeço de Monsanto e a vasta campina que se desenvolve a perder de vista; para o outro, os cumes da Gardunha, os campos de Penamacor, a Arrochela, as casas das malhadas da fronteira e, mais lá, Espanha adentro, Valverde del Fresno, Heljas e outros «pueblos», até aos contrafortes da Sierra de Gata.
O «cimo da serra» era, noutro tempo, o destino obrigatório dos passeios de domingo dos jovens de ambos os sexos, que se divertiam alegremente, estrada acima e estrada abaixo.
E era no «cimo da serra» que os rapazes mais velhos passavam muitos dos serões de verão: tínhamos ali o nosso «penedo da saudade», no qual nos sentávamos, em amena cavaqueira ou contando anedotas, à luz do luar ou ao lusco-fusco das estrelas, até altas horas da noite.

«Cimo da serra», 1956. Os garotos quiseram ficar na imagem, com estes três rapazes do nosso tempo.

sexta-feira, março 13, 2009

Os queijos da «Ti Mília»


Somos um dos muitos salvadorenses que emigraram para a capital à procura de meio de vida, já que a família não possuía terras que, por um lado, ocupassem os nossos braços e, por outro, bastassem à nossa sobrevivência.
Vivemos mais de meio século afastados da terra natal, salvo as breves visitas anuais, para matar saudades das pessoas e das coisas que, na ausência, povoavam o nosso imaginário: as pessoas eram os familiares, os amigos e os conterrâneos em geral: as coisas eram várias, mas os aromas e os paladares das nossas comidas em primeiro lugar.
Assim, queremos aqui evocar os queridos amigos Emília Vinagre e José Mendonça (infelizmente já falecido), visita obrigatória de cada vez que íamos à terra, e desejamos salientar aquela mesa sempre farta e sempre posta que, nas Naves, no Salvador ou no Carvalhal, acolhia os amigos.
Finalmente, devemos confessar que mantemos intacto, no nosso íntimo, o cheirinho e o gosto da sopa de grão com massa, da morcela e da farinheira, das azeitonas e do queijo da «Ti Mília».
São as suas mãos de fada que, na imagem, apertam a coalhada nos acinchos, extraindo o soro (magnífico!), que escorre sobre a francela e é aparado no alguidar.

Foto (cerca de 1970) cedida pelo Zeferino Afonso

sexta-feira, março 06, 2009

A «Menina» Rita


Filha de boas famílias (o seu apelido encontra-se em documentos muito antigos); mulher pequenina, extremamente viva e activa; espírito jovem, aberto e actuante; grande facilidade de comunicação em todas as situações; tudo isto e o facto de ter casado já bem trintona, Maria Rita Martins Beringuilho (1914-1991) justificou plenamente o tratamento de «menina» que todo o povo de Salvador lhe dispensou, carinhosamente, durante toda a sua longa vida.
Ninguém ficava indiferente com esta personagem. Era exemplar o seu relacionamento com toda a gente, de qualquer posição social, sendo, porém, notável, a aceitação de que gozava entre as famílias mais prestigiadas, de quem era visita assídua e permanente. É, ainda, de salientar a sua religiosidade e a assistência que sempre deu aos assuntos da igreja e das capelas da terra, desde contribuições monetárias – documentos paroquiais que analisámos deram-nos conta disso – ao seu trabalho voluntário, nunca regateado quer à liturgia quer ao arranjo e preparação dos altares e dos próprios templos. Se havia problemas com o sacristão, o que por vezes acontecia, era comum ver-se aquela figura franzina, já de avançada idade, subir as estreitas escadas da torre da igreja e sacar dos sinos um trepidante repicar de casamento ou de baptizado, um advertente toque da primeira, da segunda ou da terceira à missa, ou, até, um pausado e plangente dobre de finados. 
A «Menina» Rita foi uma das figuras marcantes do Salvador dos tempos antigos, e inteiramente merecedora de, por este meio, ser por nós recordada, e dada a conhecer às novas gerações.

segunda-feira, março 02, 2009

Penamacor – 800 anos




Associando-nos às Comemorações dos 800 Anos do Foral de Penamacor, reproduzimos, com muito prazer, um pequeno artigo que publicámos, em 1991, no extinto Baluarte – Revista do Estado-Maior-General das Forças Armadas.

AC – Salvador Barquinha d'Oiro