quinta-feira, dezembro 31, 2009

Ano Novo?!


Acaba um ano e logo outro começa.
Continua esta eterna contradança
De iludir as gentes com a «mudança»
Do que nunca muda, embora pareça.

É, cada novo ano, nova promessa
Que impele a retomar a confiança.
É mais um desengano para a esperança,
E, de novo, a desilusão regressa.

Ó mortal, deixa-te de calendários!
Crê apenas no momento de agora!
Se também sonhaste, p’la vida fora,

E tiveste crenças e anseios vários,
Não queiras viver estes meus calvários...
Recusa o ano: manda-o embora!

Lisboa, 1987.
Albertino Calamote, Dor e Poesia: sonetos, Lisboa, Edições Colibri, 1999.

sábado, dezembro 19, 2009

Boas Festas

Salvador barquinha d'oiro deseja, a todos os seus leitores e amigos, boas festas de Natal e um Ano Novo sem sobressaltos e muito feliz.

segunda-feira, dezembro 14, 2009

«Toninho» Raposo


Esta fotografia, de cerca dos anos trinta, mostra um grupo de familiares do antigo comerciante e proprietário José Manteigas Raposo, aquele mesmo que, em 1923, oferecera o primeiro relógio da torre da igreja de Salvador.
António – ou Toninho–, um dos filhos do velho comerciante, é o que está, elegantemente, de fato branco. E a sua curiosa posição, de joelho em terra, sugere ter sido ele a tirar a fotografia, com recurso a disparo por retardador e à correspondente corridinha...
António Manteigas Raposo desempenhou, por mais de uma vez, entre 1933 e 1945, funções de presidente da Junta de Freguesia de Salvador. Tratava-se de um homem culto e de vincada postura política, aliás muito acima do normal para o meio.
Toninho Raposo é também recordado por ter sido, em 1945, o primeiro salvadorense com automóvel próprio: um vistoso Ford V8, preto, de matrícula AC-82-56.
(Foto cedida por D. Deolinda Raposo)

sábado, dezembro 05, 2009

Pausa para o Retrato


A fotografia é do final dos anos 50, e foi seu autor o nosso ilustre conterrâneo, professor José Vicente Lopes (1897-1969)*
Em meados do século, ainda a actividade agrícola tinha importância fundamental entre a população da nossa terra, apesar de já se registarem crescentes casos de abandono dos campos, em busca de novas e mais promissoras hipóteses noutras paragens.
Como se suspeitassem que aquele momento chegaria ao nosso conhecimento aqui e agora, vemos, na imagem, alguns trabalhadores rurais salvadorenses, que posam atentamente, empunhando os respectivos instrumentos de trabalho (enxada, sacho, ancinho, regador), enquanto que outras alfaias, ou utensílios de trabalho mais pesado, como o arado, a grade e o próprio carro de fueiros, se arrumam junto do portão da quinta, à espera dos respectivos animais, companheiros inseparáveis dos camponeses na labuta da terra.
_______
* In José Vicente Lopes, Salvador [manuscrito inédito], Salvador, 1960, p. 33.

domingo, novembro 29, 2009

Rua da Cinza


Nesta foto (anos 60?), cedida pela Lena do Américo Morais, que, como eu, foram gente na Rua da Cinza, podemos ainda ver as «casinhas» que avançavam das moradias, à guisa de logradouro de arrumos. A «casinha» branca era do Ti Zé Violas e servia, simultaneamente, de oficina de sapateiro e de posto de correio, sendo, também, mormente de verão, uma espécie de clube onde se juntavam certas pessoas para um bom jogo de damas ou para uma animada converseta, sempre com o contributo bem homorado do anfitrião, enquanto batia a sola ou ponteava os sapatos.
Aqui vão uns versinhos à minha rua:

A Rua da Cinza é minha,
Herdei-a por nascimento.
Guardo-a, bem guardadinha,
Junto do meu pensamento.

Saindo do Fundo da Estrada,
Finda na Rua Direita.
Mesmo antes de ter calçada
Já ela era a mais perfeita.

Tinha casas, muitas casas,
Alegria e foliões;
Tinha rondas, tinha arruadas,
E flores nas procissões!

Tinha vida, muita vida,
Trabalho e divertimento;
Povo de cabeça erguida,
Salvador em movimento!

A Rua da Cinza é minha,
Herdei-a por nascimento.
Deixá-la-ei, inteirinha,
Quando fizer testamento.

sexta-feira, novembro 20, 2009

A água do Salvador


Mais uma jóia de imagem, de fim dos anos cinquenta / princípio dos sessenta, que mostra um naipe de belas moças de que o nosso Salvador sempre foi fértil.
Encostadas ao chafariz fundeiro, de costas para a Rua Direita e para a imponente casa do Dr. Júlio Moutinho (actual Centro de Dia), temos: a Arlete, a Alda Frederico, a Lurdes Leitão, a Maria Alice, a Nazaré, a professora Maria Natália, a Maria Augusta e, ainda, de mais tenra idade, julgo ver a Severiana Candeias Lopes, a Maria Manuela (Manecas) Vicente Lopes, a Zezinha Silva Raposo (com a mão sobre a vista) e, finalmente, um triciclista, que creio ser o Manuel Tavares (Manelito).
Tinha o Salvador de outros tempos coisas muito boas, algumas delas só conhecidas dos mais velhos! E não falo já da juventude, aqui tão presente e tão distante: refiro-me, agora, e com acentuada nostalgia, à água leve e puríssima, brotada das nascentes da serra da Santa Sofia, que aqui vemos correr abundantemente.
Naquele tempo, é claro!

quinta-feira, novembro 12, 2009

Outros balcões altos


Antes do aparecimento dos novos materiais de construção, o Salvador de outras décadas tinha bonitos balcões feitos de grandes e trabalhados blocos de granito, que, na maioria dos casos, definiam a dignidade, e, mais propriamente, as posses dos seus proprietários: eram as clássicas mansões de «balcão alto» dos mais ricos e abastados da terra.
Não é o caso desta imagem de 1961, que mostra um balcão com uma certa altura, mas em que, nem as pedras nem o trabalho de pedreiro, nos sugerem tal situação, mas uma casa de gente simples, embora vestida a propósito e pondo o seu melhor semblante para o retrato que há-de ser expedido para o familiar distante, a fim de servir para mitigar saudades e para abreviar o regresso.
É família de José Afonso e Adélia dos Santos, naturais de Proença-a-Velha, que, no final dos anos vinte, vieram para o Salvador, onde viveram toda uma vida e onde estão sepultados.

domingo, novembro 08, 2009

Família Leitão


A foto é da segunda metade dos anos setenta. Nela vemos um casal idoso, o senhor Leitão e a senhora Celeste, entre filhos e netos. Foi tirada em Monsanto, mas com um pé no Salvador (falamos assim, porque o referido casal passou a maior parte da sua vida na nossa terra, onde ele exercia a profissão de guarda-fiscal, e onde a família cresceu).
O jovem par que se vê atrás é o Henrique Leitão e a Lena. Quanto aos restantes, são o Manuel Sebastião, a Lurdes e os filhos de ambos: a Fátima, de cócoras; a Filomena, de mão na cintura, a Fernanda e o Nelson.
O «Manel» deixar-nos-ia pouco tempo depois de feita esta imagem; o Nelson partiria também enquanto jovem e a Fernanda conheceu uma viuvez precoce há bem poucos dias.
A Lurdes, que tem agora perto de oitenta anos, acumulou já uma vasta experiência de sofrimento: os pais, os sogros, um irmão, o único cunhado, o marido, o filho, o genro, todos lhe foram arrebatados, sem dó nem piedade.
Dizem que o sofrimento redime porque Deus o ligou ao amor. Mas lá que é injusto, isso é!

quarta-feira, novembro 04, 2009

Belo ramalhete de flores


Olhem só que belo ramalhete de flores que vos trago hoje, nesta magnífica foto de meados da década de cinquenta! Era assim, belo e florido, o Salvador do meu tempo: terra de caras lindas, como as que aqui vemos.
O «ramo», disposto em pirâmide sobre o «Penedo da Saudade», transborda boa disposição e irradia felicidade. Privilégios da juventude!
Este barroco, situado no cimo da serra, era passeio obrigatório para os jovens, que ali se reuniam, para conversarem, nos domingos à tarde e, por vezes, também nas noites enluaradas e cálidas de verão os rapazes ali permaneciam, divertidos, a contar anedotas, até altas horas da noite.
Identificamos, na imagem, de cima para baixo e da esquerda para a direita, a Nazaré, a Manecas, a Lurdes Raposo, a Maria Silva, a Maria Augusta, a Alice França, a Maria Alice, a Arlete, a Helda, a Lurdes Leitão, a professora Maria Natália, a Alda Frederico, a Stelinha e a Zezinha. Se me enganei, corrijam-me.
Homenageamo-las a todas, mas com saudade as que já partiram.

domingo, novembro 01, 2009

Um casal salvadorense


O ti José Cigano e sua mulher, a ti Antónia Rosalina, moravam na íngreme Rua da Salgadeira, à mão direita de quem sobe, logo a seguir ao canto dos Francisquinhos.
Era um simpático casal que vivia do seu trabalho: ele, guarda do Vieiro nos tempos em que das minas se extraíam toneladas e toneladas de minério de ferro, que grandes camionetas transportavam até às siderurgias; ela levava a vida atrás de um tear, que accionava com agilidade e destreza, e do qual se faziam ouvir, ao redor, os sons sincronizados, primeiro da lançadeira a correr entre a urdidura e a trama, para um lado e para o outro, e, depois, a batida vigorosa do pente contra o encosto. Era um afã que se repetia vezes sem conta, até que se acabasse a toalha, o panal ou a manta que a freguesa encomendara...
A fotografia, tirada em 1946, destinava-se ao filho António, que vivia em Moçambique, e foi por isso que ambos se aperaltaram como se vê.
As vistas foram as possíveis daquele tempo: o tosco muro de alvenaria de um quintal, e, ao longe, um pedaço da bonita serra do Salvador.

terça-feira, outubro 27, 2009

As calças de «pana»


Esta foto é de 1946 e foi tirada em Nisa, por ocasião do casamento do meu irmão do meio, o Aníbal, e terá como alguma curiosidade o facto de juntar um Albertino e uma Albertina.
O Albertino sou eu; a Albertina é a única irmã da minha nova cunhada. Acho que se nota, pelas posturas e pelas roupas de ambos, que se trata de uma menina da vila e de um garoto da aldeia.
Mas não foi por isso que a fotografia para aqui veio. Outra coisa me motivou a mostrar-vos a referida imagem: nem mais nem menos do que as minhas calças de pana preta!
Pana era o nome que nas aldeias da raia, como o Salvador, se dava à bombazina – um tecido rústico, grosso, mais barato e resistente do que o surrobeco ou do que o próprio burel.
Estávamos nos tempos fortes do contrabando, e a pana era um dos principais artigos que vinham de Espanha, na conhecida permuta clandestina de géneros e produtos que escasseavam num e noutro lado da fronteira, mercê do atraso económico que, nesses anos, vitimava ambos os povos dos dois países ibéricos.
Nessa espécie de economia paralela, nós mandávamos para lá o café e o açúcar e de lá recebíamos a bombazina e os chocolates.
É evidente que eram muitas mais, e mais variadas, as trocas comerciais que se faziam então. Eu, aqui, acentuo nesses anos, porque, afinal, agora as coisas mudaram: já estão livres as fronteiras e já passa tudo, sem necessidade de contrabandistas, ou de guardas, ou de alfândegas.
Mas, para nossa vergonha, os produtos só circulam num sentido: até as frutas mais vulgares, e os nabos, os agriões ou as cenouras que comemos, nos vêm do lado de lá!!!

sábado, outubro 17, 2009

A malhada


Não sei se sabem, mormente os mais novos, qual o significado que aqui se atribui à expressão em título – A Malhada –, e que eu creio ser específico do Salvador e das vizinhas terras da raia, de ambos os lados da fronteira.
Pois bem: malhadas, nesta acepção, eram propriedades rústicas, mais ou menos extensas, exploradas por um lavrador, as mais das vezes rendeiro, que nelas se fixava com a família, em habitações pouco mais que provisórias e com condições mínimas. O trabalho familiar assegurava as tarefas fundamentais da pecuária e da agricultura, salvo na época das colheitas (ceifa, malha, vindima, azeitona, etc.) em que havia reforço da parte de familiares e amigos e, raramente, de assalariados.
As malhadas tomavam o nome dos seus titulares: era a «Malhada do João Bicho», a «Malhada do Javier Morales», etc.
A foto foi tirada na Malhada do Zé Mendonça, lá p’ra trás, pr’ás Naves. Foi no Verão de 1965, e documenta um agradável piquenique à sombra duma azinheira: manta de trapos estendida no chão; ensopado de borrego fumegando nos pratos e pão-trigo cozido em casa; «palhinhas» funcionando; melancia e cântaro de barro com água para refrescar; lenço ao pescoço e chapéu de palha por mor do calor de Agosto...
... até o Alberto, um pastor-como-membro-da-família-Mendonça, largou o rebanho e veio até à sombra da azinheira, mais o seu fiel rafeiro, preencher a foto e tomar lugar à «mesa».

sexta-feira, outubro 09, 2009

Um parentesco singular


A foto é de Francisco Nunes Ribeiro (1870-1959), filho de Gaspar Nunes Ribeiro e de Raquel Augusta de Campos. Era vulgarmente conhecido por Francisco Arraquel, alcunha devida, sem dúvida, ao nome da mãe.
Casou duas vezes. Na primeira, com Luísa Pereira, de quem teve três filhos: Maria Lucinda, Adelino e Abel (este falecido de tenra idade); na segunda, com Emília Calamote, que lhe deu mais cinco: Adosinda, José, Lurdes, Baltasar e Eduardo.
Natural de Penamacor, viveu a maior parte da sua vida em Salvador, primeiro como guarda-fiscal e, depois de reformado, como uma espécie de homem dos sete ofícios, mas, principalmente, como pintor-caiador.
O extraordinário disto tudo é que o senhor Arraquel era o pai da minha mãe, e teve como segunda esposa uma irmã do meu pai.
Então e depois, dirão os que me lêem? Ora vejam só esta pequena amostra:
O meu avô Francisco foi também meu tio e foi cunhado do seu genro e da sua filha (meus pais);
A minha tia Emília foi também minha avó e sogra do irmão (meu pai), além de madrasta da cunhada (minha mãe);
O Eduardo, filho do meu avô e da minha tia, foi também cunhado e sobrinho de meu pai; sobrinho e irmão de minha mãe; meu tio e meu primo (além de meu particular amigo de infância); foi comigo às «sortes» e ambos marchámos para a tropa no mesmo ano (1958)!!!
E não vos maço mais, com este meu parentesco singular.

sábado, outubro 03, 2009

Dormir ao relento


Dormir ao relento foi uma das experiências que mais me marcaram na juventude. O meu irmão mais velho, que vivia em Lisboa, não podia passar as suas férias de verão, no Salvador, sem que fossemos dormir, pelo menos uma noite, à nossa horta, debaixo de uma enorme oliveira que ali existia.
Então lá íamos todos os de casa, grandes e pequenos. Espalhávamos umas faixas de palha pelo chão, e, sobre a palha, grossas mantas de trapo faziam de lençóis. Com mais dois ou três cobertores, dormíamos todos juntos, lado a lado, naquela cama enorme.
Eu, nos meus dez anos, não era muito foito em questões de noite e de escuro, mas, com tanta companhia, sentia-me completamente seguro, e excitado, mesmo, com a aventura.
Os adultos ficavam a conversar até altas horas e a olhar para o céu e para as estrelas. Os mais pequenos acabavam por adormecer e sonhar, até que o luz do dia os acordava, bem cedo aliás, no dia seguinte.
Esta foto é de 1948, e documenta uma das felizes manhãs da horta, após uma noite em cama de feno, no maravilhoso concerto dos sons e dos aromas da Natureza – como o cantar dos grilos e o odor dos poejos –, sob um firmamento de luzes monumentais.

quarta-feira, setembro 23, 2009

O jovem, a seara e a fisga


Meio século separa este instantâneo dos nossos dias. O jovem, na idade da esperança, estica firmemente os elásticos duma fisga, e fá-lo tendo por fundo uma densa e viçosa seara de centeio.
Tudo ali era esperança, nesse preciso momento: a juventude evidente, a promissora seara e a fisgada confiante.
Juventude, searas e fisgas já não são, para nós, infelizmente, mais do que saudosas e angustiadas recordações que a passagem dos anos vai tornando cada vez mais penosas. Com excepção, talvez, da fisga, que pouco ou nada mudou desde então, e que, julgo eu, continua na mão dos garotos lá da terra, quando fazem despiques para ver quem acerta melhor ou quem atira a pedra mais longe..., ou a assustar os passarinhos que pousam nas árvores ao seu alcance!

quarta-feira, setembro 16, 2009

A «Quinta»


Que fazem estes três rapazes (quatro, com o fotógrafo?), que aqui ostentam farfalhudos bigodes de barbas de milho, num domingo (a avaliar pela fatiota), encostados à nora da «Quinta»?
Os rapazes são o Mário e o Frederico «Farragas» e o Albertino «Violas». O fotógrafo terá sido a irmã deles, a Maria Manuela, ou algum outro amigo que agora não recordo.
A quinta era a do Dr. Frederico Conde, na Ramalha, onde os pais deles eram caseiros, e que era completa e suficientemente identificada por «a Quinta».
Tratava-se de uma propriedade extremamente bem aproveitada e mimosa. O olival e a vinha eram excelentes e asseguravam produções notáveis.
Com fartura de água, os produtos hortícolas eram ali abundantes e de óptima qualidade. Tinha ainda imensa variedade de árvores de fruto, cobrindo, praticamente, todo o ano.
Dispunha ainda a «Quinta» de um belo aglomerado de casas, ajardinado, com instalações agrícolas e pecuárias, com morada para os caseiros e onde pontuava um sóbrio palacete dos proprietários, que residiam em Castelo Branco e ali vinham passar os fins-de-semana para descansarem e para levarem abastecimentos para casa.
Ora, o que fariam ali os rapazes? Divertiam-se, é claro!
Não havia TV, nem computadores, nem jogos electrónicos... Mas, decerto, correram e saltaram pelo meio do milho; saborearam «galula» dos marmeleiros, amoras ou figos, ou outra fruta da época e beberam daquela água fresca e pura do poço da nora...
E despreocupados como andavam, nem lhes passou pela cabeça que a sua garbosa figura iria parar à Internet, cinquenta e cinco anos depois!

quinta-feira, setembro 10, 2009

Ainda o livro – entrevista


Sobre a apresentação do livro «Salvador barquinha d' oiro», publicou o semanário «Reconquista», na sua edição de hoje, 10 de Setembro, um apontamento de entrevista do jornalista penamacorense José Furtado com o autor, que gostosamente levamos ao conhecimento dos leitores do nosso blogue.

Salvador em livro – Lançamento


Como anunciado neste blogue, o lançamento do livro «Salvador barquinha d' oiro: o tempo dos nossos avós» aconteceu no dia 4 do corrente mês (e primeiro da festa de Santa Sofia). Teve lugar ao fim da tarde, no salão de festas do moderno edifício da Junta de Freguesia de Salvador, com a presença de ilustres convidados e de muito público.
Compunham a mesa o presidente da Câmara Municipal de Penamacor, Domingos Torrão; o presidente da Assembleia Municipal de Penamacor, Lopes Marcelo; a vereadora da Cultura, Ilídia Cruchinho; o presidente da Junta de Freguesia de Salvador, Joaquim José Justino; o editor (Edições Colibri), Fernando Mão Ferro, e o autor, Albertino Calamote. Todos usaram da palavra, e foi a vereadora Ilídia Cruchinho quem fez a apresentação da obra. De uma forma magistral, sublinhe-se, atendendo ao curto espaço de tempo de que dispôs para o efeito.
Uma projecção de diapositivos, com imagens do livro, complementava as palavras dos oradores, para gáudio da assistência.
No final, a inevitável sessão de autógrafos, com a grata surpresa de a Junta de Freguesia de Salvador ter decidido brindar todos os presentes com um exemplar do livro, oferta esta que manteve nos dias seguintes da festa, contemplando, ao que julgamos saber, mais de 400 salvadorenses.
Não somos a pessoa indicada para o afirmar, mas este gesto tem um alto significado, tanto do ponto de vista do relacionamento da autarquia com os seus habitantes, como da reconhecida mais-valia que advém, para todos, da projecção do livro e da cultura.

terça-feira, setembro 08, 2009

Festa de Santa Sofia


Mais um ano, mais um primeiro fim-de-semana de Setembro, mais uma festa de Santa Sofia, mais uma concentração de salvadorenses para homenagearem a sua padroeira de eleição.
Trazemos aqui, hoje, imagens duma festa de outros tempos, mais precisamente duma procissão.
Não sabemos datar o evento, mas estimamos que possa ser dos anos cinquenta, início de sessenta.
Alguns dos presentes nas fotos, e as duas frondosas sobreiras, ao cimo do «Chão do Seabra», despertarão, sem dúvida, lembranças adormecidas nas memórias dos menos jovens...
Fotos cedidas pela Lena F. P. Afonso.

terça-feira, agosto 25, 2009

Casamento em Fátima


Mais uma imagem de alta qualidade e grande interesse afectivo que este blogue salvadorense dá a conhecer aos seus seguidores, uns, os menos jovens, sempre interessados em recuperar vivências de infância, e outros, os que não conheceram esses tempos, curiosos por, assim, serem transportados aos tempos que foram os da flor da idade dos seus progenitores.
Trata-se dum registo do casamento do Libério Silva, realizado em Fátima, em 24 de Abril de 1962. Os noivos estão rodeados de familiares e de convidados que foram personalidades bem conhecidas e consideradas no Salvador, e de que destacamos o casal de professores Maria Adelaide e José Vicente Lopes, com a sua numerosa e simpática «turma» de filhos.
A foto foi-nos cedida pelo Adelino Justino, que também ali posa.

terça-feira, agosto 11, 2009

Salvador em livro

Encontra-se já na posse da Câmara Municipal de Penamacor e da Junta de Freguesia de Salvador, como entidades patrocinadoras da edição do livro Salvador barquinha d' oiro – O tempo dos nossos avós, uma primeira entrega da tiragem da referida publicação, da chancela das Edições Colibri (www.edi-colibri.pt).
Em breve saberemos, daquelas autarquias, onde e em que condições poderá ser adquirida a obra em questão, até ao momento a única impressa sobre a nossa terra.
ÚLTIMAS:
Lançamento em Salvador, no dia 4 de Setembro (primeiro dia da festa de Santa Sofia)

sábado, agosto 08, 2009

A Casinha


A casa dos meus pais era muito pequenina. Aliás, ela já resultara da divisão, ao meio, da casa de meus avós paternos, também ela já pequena. Ficava situada na Rua da Cinza, uma das artérias mais movimentadas de Salvador, por ser o caminho privilegiado entre o centro do povoado e a zona dos palheiros e das hortas.
Numa parte do local antes consagrado ao logradouro, encostado à rua, o meu pai fez uma divisãozinha independente, destinada a oficina da sua arte de sapateiro. Era a casinha.
A casinha era, pode dizer-se sem medo de errar, o local mais visitado e frequentado da freguesia, logo a seguir à igreja.
A razão é simples e há duas explicações para o facto. A primeira é que ali se vendiam os selos, se registavam as cartas e era aberta a mala do correio: e à porta da casinha se distribuía a correspondência aos que ansiosamente aguardavam por notícias; a outra, é que o Ti Zé Violas não era apenas sapateiro, mas um salvadorense muito popular e considerado, que atraía, à sua oficina, imensas pessoas, sobretudo das que estavam a férias, para uma boa partida de damas, para umas divertidas anedotas ou, mesmo, para elevada tertúlia, onde se debatiam os problemas mais candentes da actividade política do país.
A casinha, como o Ti Zé Violas, já não existe.
Tudo muda com o tempo.
A própria Rua da Cinza já não parece a mesma.

quinta-feira, julho 30, 2009

Militares


Este garboso militar de cavalaria é o salvadorense José Mendonça (1915-2005), que aqui deveria ter pouco mais de vinte anos, pelo que a foto será de cerca de 1936.

Os militares estiveram sempre presentes na História de Portugal desde os seus primórdios: nas lutas contra leoneses e muçulmanos; contra agressores e ocupantes castelhanos; contra invasores franceses; nas campanhas africanas do mapa cor-de-rosa; na primeira guerra mundial, em França e em África.
Depois, já nos anos sessenta/setenta, na guerra do ultramar, em várias frentes.
A tropa era conscrita, por ordem dos governos da Nação e para defesa da mesma, isto é, o serviço militar era obrigatório e tinha por fim a defesa nacional. Entretanto, o serviço militar obrigatório foi abolido em Portugal em 2004, mas teatros de guerra como a Bósnia, Timor-Leste, Kosovo, Afeganistão, etc. etc., têm a nossa tropa a defender, voluntariamente, terra alheia.
Os EUA também aboliram o serviço militar obrigatório em 1973, na sequência da Guerra do Vietname...
– «Malhas que o império tece», como disse Fernando Pessoa!

sexta-feira, julho 17, 2009

No prelo


Patrocinado pela Câmara Municipal de Penamacor e pela Junta de Freguesia de Salvador, está prestes a sair a público, pelas Edições Colibri, o livro Salvador barquinha d’oiro: o tempo dos nossos avós, que será o primeiro esboço monográfico da nossa terra, em letra de forma.
Na suas cerca de 300 páginas, são abordados aspectos históricos, económicos e culturais, desde as origens conhecidas até meados da segunda metade de Novecentos, época considerada, pelo autor, a mais próxima do «tempo dos nossos avós». A publicação inclui dois extratextos: um com a divulgação de diversos documentos antigos; outro com várias imagens a cores – estas, evidentemente, bastante menos antigas.
Trata-se de um trabalho assaz incipiente, mas em boa parte realizado com uma segunda intenção: que foi a de tentar contagiar os salvadorenses mais jovens e procurar despertar, neles, iniciativas novas que vão no sentido de um estudo mais aprofundado da nossa terra e das nossas gentes.

domingo, julho 12, 2009

A turma de Tavira



Vai para cinquenta anos que, entre os dia 1 de Setembro de 1959 e 30 de Janeiro de 1960, este vosso amigo conheceu, ao pormenor, a bela cidade de Tavira. A terra algarvia que mais igrejas tinha, diziam. E era verdade: acho que nem cheguei a visitá-las todas, apesar do inegável atractivo monumental, da pluralidade de estilos arquitectónicos e da diversidade de influências religiosas de cada uma delas.

Naquele tempo Tavira fervilhava de militares, que animavam o comércio e as pensões, e alvoroçavam o sentido do elemento feminino, perante o renovar constante de vagas de imberbes mancebos e, como tal, de potenciais hipóteses de namorico... ou talvez mais.

De facto, funcionava ali o Centro de Instrução de Sargentos Milicianos de Infantaria (CISMI), por onde passavam anualmente algumas centenas de instruendos de todo o país. Muitos ali tiveram namoradas, ou madrinhas de guerra, e alguns por lá casaram.

Alguns dos camaradas de turma vim a encontrá-los, cerca de dois anos após, na odisseia portuguesa do Ultramar; outros não os vi mais. Que vivam e que sejam felizes todos!

Neste mundo, tanta coisa mudou, entretanto!

Mas da juventude que detínhamos, da camaradagem que sentíamos, da solidariedade que retribuíamos, das ilusões que eram só nossas, durante aqueles excitantes cinco meses em conjunto, subsiste, ao fim deste meio século, este elo de amizade que, ao recuperar as imagens, o faz com o coração cheio e o olhar húmido.

quarta-feira, julho 01, 2009

Convívio familiar


Em todas as famílias há sempre um ou dois membros cuja preocupação constante é aproveitar todas as ocasiões para reunir o clã, proporcionando momentos ímpares de convívio e de confraternização, a remeter para a vivência original dos primeiros tempos de vida debaixo do mesmo tecto e à mesa comum.
Na família Afonso era o Armando e a Maria Augusta quem fomentava essa união familiar, e eram de sua iniciativa a maior parte dos agradáveis serões, dos frequentes piqueniques ou das «obrigatórias» férias de verão no Salvador. Era, para eles, uma imensa felicidade terem a família à sua volta – família numerosa em crescendo, mas, por isso mesmo, crescentes eram o amor, a alegria e a dedicação deles.
Malfadadamente, o Armando e a Augusta foram os primeiros a desaparecer. A família continua amiga como dantes, mas a garra, o dinamismo e o espírito de iniciativa foi com eles.
Nas férias de 1977, a família juntou-se mais uma vez no Salvador para a Santa Sofia, e a foto seguiu-se à merenda saboreada à sombra das árvores da piscina da Termas de Monfortinho.

terça-feira, junho 23, 2009

As meninas «bem»


Este ranchinho que aqui está, encostado à varanda do balcão do Sr. Frederico Costa e da Sr.ª Maria Clara, composto de deliciosas meninas casadoiras e de alguns eventuais pretendentes que espreitam atrás delas, representa a «fina-flor» da juventude da nossa terra, à data da fotografia, que deve ser de 1950, aproximadamente.
As meninas da foto não precisavam de trabalhar no campo. Eram as meninas «bem» do seu tempo e este estatuto advinha-lhes de serem filhas de guardas ou de proprietários. Dizêmo-lo com franqueza e sinceridade. Era assim mesmo.
Naquele tempo raro era o jovem que seguia estudos. O liceu era em Castelo Branco e as posses das pessoas – mesmo das «remediadas» – não comportavam a despesa. O caso feminino era ainda mais excepcional: ainda se acreditava ser suficiente a preparação, mais ou menos cuidada, para o casamento e para a família.
Já são cada vez menos as meninas deste grupo, cuja singela beleza enchia de luz e de jovialidade os luminosos e alegres passeios de domingo do nosso Salvador, naqueles felizes anos cinquenta.
Foto cedida pela Lena Prata Afonso.

segunda-feira, junho 08, 2009

O compadre Catarro


Quando eu nasci, o meu pai já tinha 44 anos feitos. Não tenho ideia de ele ter grandes miminhos ou brincadeiras comigo, o que acho natural, dado que já era um bocado «entradote» quando eu deixei de gatinhar e comecei a correr pela casa.
Lembro-me mais das suas histórias, bem como das de meu tio António, que morava na casa ao lado. E, também, dos agradáveis serões à luz do candeeiro a petróleo, quer em nossa casa, quer quando íamos de visita aos primos Maria de Andrade e José Calamote, que moravam na Rua da Salgadeira.
Aqui, jogava-se ao «burro», e eles deixavam-me jogar desde que comecei a conhecer as cartas, mas aborrecia-me muito a conversa deles, pois nunca mais jogavam: a falar, a falar, a falar! Só gostava de os ouvir quando falavam dos carnavais do Salvador, e dos entrudos e das partidas que o meu pai pregava mais os seus compadres e colegas da folia. Esses compadres eram o João Pereira, o Zé Robalo e o Filipe Catarro. Pelos vistos, eram danados para a brincadeira...
Ora, este homem que está na imagem, todo pipi da tabela, é o compadre Catarro, e a fotografia é de quando esteve na Argentina, nos longínquos anos vinte, se a memória não me atraiçoa.
Esta foto, com outras da época, integrou uma moldura pendurada na sala de meus pais, desde que me conheço até que a casa foi remodelada, depois de falecerem. A sua publicação no Salvador barquinha d’oiro é um tributo à lembrança do compadre Catarro e, também, dos compadres dele!

domingo, maio 31, 2009

1949 – Onde pára esta gente?


Sessenta anos não é pouca coisa!
Onde pára esta gente que, há sessenta anos, estava a sair da igreja do Salvador e ficou neste retrato?
Os anjinhos, conduzidos pelos seminaristas, para onde «voaram» com as suas asas brancas?
E os mortais pecadores que os cercam, tão enlevados mas tão fechados debaixo da escuridão dos habituais lenços e chapéus, onde se encontrarão?
Sessenta anos, tanta vida!
Sessenta anos, um momento!
Um clique de um fotógrafo, antigamente, na minha terra.
Foto, de 25-9-1949, cedida pelo padre Henrique da Cruz Monteiro, na imagem.

quinta-feira, maio 21, 2009

Foi há vinte, há trinta?



Foi há vinte, há trinta? Nem eu sei já quando...
Minha velha ama, que me estás fitando,
Canta-me cantigas para eu me lembrar!

Apetece invocar estes belos versos de Guerra Junqueiro quando vemos fotos deliciosas, como esta do casamento da Celeste e do Rui, aqui rodeados do padre António Robalo Ramos, do Henrique Bicho, do Ti José Mendonça (pai do noivo), do Ti Canilho, e de tantos outros amigos, de ar grave e circunspecto como é próprio da importância do momento.
A felicidade não é alegre nem é triste: a felicidade é, simplesmente. E nós somos felizes, por conseguirmos aqui trazer tempos que o foram, realmente, nas nossas vidas.

(Foto cedida por Zeferino Afonso)

quarta-feira, maio 06, 2009

Quem sabe a razão?


A maior festa de Salvador, e também umas das mais afamadas da região, é a que se realiza no primeiro domingo de Setembro de cada ano, em honra de Santa Sofia.
Até aqui tudo bem, mas existe um pormenor que intriga muita gente, incluindo nós próprios, que não temos uma resposta para lhe dar. Trata-se da existência de duas imagens da Santa, uma de estilo reconhecidamente mais antigo – diríamos que de traça medieval – e a outra bastante mais moderna.
O curioso é que ambas tomam parte nos actos religiosos, nomeadamente nos percursos processionais das festas, cada uma com o seu andor engalanado e, pelo menos até há alguns anos, coberto de notas e de outras oferendas.
Talvez que algum dos nossos leitores conheça as razões desta coexistência das duas imagens da nossa veneranda Santa Sofia, e não se importe de as compartilhar.

sexta-feira, abril 24, 2009

Nuveus que cruzam o céu


24-04-2003 – 24-04-2009

quinta-feira, abril 23, 2009

Num dia como o de hoje


23-04-1988 – 23-04-2009

quarta-feira, abril 22, 2009

Que saudades...



A foto e as palavras que se seguem foram enviadas pelo nosso conterrâneo Lino Pinto, de 40 anos, que se considerou transportado aos anos oitenta quando leu o nosso «post» de 16 de Fevereiro, sobre o Clube Recreativo e Beneficiente de Salvador:

«Que saudades dos tempos do nosso clube, dos jogos de futebol; jogávamos por um sumol e uma sandes (quando havia), éramos transportados em carrinhas de caixa aberta, mas sempre todos felizes, porque estávamos a representar a nossa terra. Lembro-me, também, dos saudosos bailes, das noites passadas em convívio, onde se juntava toda a juventude de Salvador e dos arredores. Nessa altura toda a gente visitava o Salvador. Que saudades...

Remeto-lhe uma foto da equipa da época de 1985/86. Na fila de trás, em pé, da esquerda para a direita: O treinador Albano, Tó Churro, Morais, Zé Bicho, Fredy, Tó Leandro, Calita Banana, Quim do Álvaro e Zé Landeiro. Em baixo, da esquerda para a direita: Lino, Zé Moleiro, Jorge Fareira, Jaime (guarda-redes), Vítor Leandro, Paulo Alemão (guarda-redes), Zé Pássaro e Zé Carapito (infelizmente já falecido)».

Salvador Barquinha d’Oiro agradece a colaboração do Lino e aproveita o ensejo para formular um desejo muito sincero, que é o seguinte:

– Que a associação cívica «Amigos de Salvador», que, de momento e em boa hora está emergindo, não deixe que o antigo «Clube Recreativo» permaneça no ostracismo em que tem existido, reabilitando-o ou integrando-o no seu seio, e recuperando, para a nossa terra, todo o seu património e todo o capital de sonho que, como vemos, marcou uma geração de salvadorenses.

domingo, março 29, 2009

Fotografia «a la minute»


A fotografia «a la minute» ainda era uma das grandes curiosidades no nosso tempo de criança.
As pessoas que queriam tirar o retrato encostavam-se muito direitas e quietinhas à parede, que estava protegida com um xaile ou com uma coberta, para o fundo ficar mais bonito. A câmara era uma vulgar caixa de madeira, montada em cima de um tripé. Tinha uma abertura atrás, coberta com um pano negro, e outra, pequenina, à frente. De lado tinha uns painéis para publicitar os retratos. O artista encostava a cabeça à abertura traseira, cobria-a com o pano escuro e, quando via que as pessoas estavam prontas, tirava a cabeça para fora e dizia para os fregueses: –
Olha o passarinho!
E premia uma bolinha de borracha que tinha na mão e estava ligada por um fio à câmara. Depois metia as mãos lá dentro, sempre fazendo escuro com o pano, e tirava de lá uma cartolina impressionada em negativo, que depois colocava em frente da lente, a uma distância de alguns centímetros.
Curiosamente – e isso fazia-nos imensa impressão –, ele punha a cartolina com as pessoas de pernas para o ar...
Após mais um clique na borrachinha, e breves minutos de espera, retirava uma tina com a foto mergulhada num líquido, primeiro branca e começando aos poucos, como por magia, a aparecem os contornos das imagens, até, finalmente, surgir uma bela fotografia que nos deixava de boca aberta.

Na foto acima, tirada em 2 de Novembro de 1936, José Calamote («Violas») tinha 43 anos; a mulher, Maria Lucinda, 39; o seu filho do meio, Aníbal, fazia 15 no dia quinze desse mês.

segunda-feira, março 23, 2009

O «Cimo da Serra»



O «cimo da serra» era/é, no Salvador, o ponto em que a estrada passa a portela do Cabeço do Ferro e começa a descida para a aldeia vizinha de Aranhas.
Dali se desfruta uma vista privilegiada. Para um lado o Salvador, o cabeço de Monsanto e a vasta campina que se desenvolve a perder de vista; para o outro, os cumes da Gardunha, os campos de Penamacor, a Arrochela, as casas das malhadas da fronteira e, mais lá, Espanha adentro, Valverde del Fresno, Heljas e outros «pueblos», até aos contrafortes da Sierra de Gata.
O «cimo da serra» era, noutro tempo, o destino obrigatório dos passeios de domingo dos jovens de ambos os sexos, que se divertiam alegremente, estrada acima e estrada abaixo.
E era no «cimo da serra» que os rapazes mais velhos passavam muitos dos serões de verão: tínhamos ali o nosso «penedo da saudade», no qual nos sentávamos, em amena cavaqueira ou contando anedotas, à luz do luar ou ao lusco-fusco das estrelas, até altas horas da noite.

«Cimo da serra», 1956. Os garotos quiseram ficar na imagem, com estes três rapazes do nosso tempo.

sexta-feira, março 13, 2009

Os queijos da «Ti Mília»


Somos um dos muitos salvadorenses que emigraram para a capital à procura de meio de vida, já que a família não possuía terras que, por um lado, ocupassem os nossos braços e, por outro, bastassem à nossa sobrevivência.
Vivemos mais de meio século afastados da terra natal, salvo as breves visitas anuais, para matar saudades das pessoas e das coisas que, na ausência, povoavam o nosso imaginário: as pessoas eram os familiares, os amigos e os conterrâneos em geral: as coisas eram várias, mas os aromas e os paladares das nossas comidas em primeiro lugar.
Assim, queremos aqui evocar os queridos amigos Emília Vinagre e José Mendonça (infelizmente já falecido), visita obrigatória de cada vez que íamos à terra, e desejamos salientar aquela mesa sempre farta e sempre posta que, nas Naves, no Salvador ou no Carvalhal, acolhia os amigos.
Finalmente, devemos confessar que mantemos intacto, no nosso íntimo, o cheirinho e o gosto da sopa de grão com massa, da morcela e da farinheira, das azeitonas e do queijo da «Ti Mília».
São as suas mãos de fada que, na imagem, apertam a coalhada nos acinchos, extraindo o soro (magnífico!), que escorre sobre a francela e é aparado no alguidar.

Foto (cerca de 1970) cedida pelo Zeferino Afonso

sexta-feira, março 06, 2009

A «Menina» Rita


Filha de boas famílias (o seu apelido encontra-se em documentos muito antigos); mulher pequenina, extremamente viva e activa; espírito jovem, aberto e actuante; grande facilidade de comunicação em todas as situações; tudo isto e o facto de ter casado já bem trintona, Maria Rita Martins Beringuilho (1914-1991) justificou plenamente o tratamento de «menina» que todo o povo de Salvador lhe dispensou, carinhosamente, durante toda a sua longa vida.
Ninguém ficava indiferente com esta personagem. Era exemplar o seu relacionamento com toda a gente, de qualquer posição social, sendo, porém, notável, a aceitação de que gozava entre as famílias mais prestigiadas, de quem era visita assídua e permanente. É, ainda, de salientar a sua religiosidade e a assistência que sempre deu aos assuntos da igreja e das capelas da terra, desde contribuições monetárias – documentos paroquiais que analisámos deram-nos conta disso – ao seu trabalho voluntário, nunca regateado quer à liturgia quer ao arranjo e preparação dos altares e dos próprios templos. Se havia problemas com o sacristão, o que por vezes acontecia, era comum ver-se aquela figura franzina, já de avançada idade, subir as estreitas escadas da torre da igreja e sacar dos sinos um trepidante repicar de casamento ou de baptizado, um advertente toque da primeira, da segunda ou da terceira à missa, ou, até, um pausado e plangente dobre de finados. 
A «Menina» Rita foi uma das figuras marcantes do Salvador dos tempos antigos, e inteiramente merecedora de, por este meio, ser por nós recordada, e dada a conhecer às novas gerações.

segunda-feira, março 02, 2009

Penamacor – 800 anos




Associando-nos às Comemorações dos 800 Anos do Foral de Penamacor, reproduzimos, com muito prazer, um pequeno artigo que publicámos, em 1991, no extinto Baluarte – Revista do Estado-Maior-General das Forças Armadas.

AC – Salvador Barquinha d'Oiro

quinta-feira, fevereiro 26, 2009

Casamentos por procuração


Dantes, os namoros eram bastante prolongados, durando, por vezes, vários anos, não apenas para que os noivos se conhecessem o suficiente, mas, o que não era menos de considerar, para reunirem as condições económicas mínimas para darem esse importante passo. O compromisso aumentava também com a passagem do tempo, não apenas nos dois namorados, mas entre os familiares ou, até, no círculo social exterior.
Os anos sessenta trouxeram, aos Portugueses, as mobilizações militares em massa, para acudir à sublevação que se registara nas possessões ultramarinas, pelo que muitos casamentos aprazados para breve, foram brutalmente adiados, em virtude de os rapazes serem mandados para África, por um período de tempo nunca inferior a dois anos.
O casamento por procuração foi uma modalidade comum em épocas de conflito, que implicavam o afastamento prolongado dos nubentes e os impediam de contrair matrimónio nas datas que mais lhes aprouvessem. A solução seria arranjar um familiar ou um amigo, a quem dotar de capacidade jurídica para representar, na cerimónia, o nubente ausente, e por ele pronunciar o necessário «sim». Embora continuando um para cada lado, cumpria-se, assim, o compromisso de anos, e resolviam-se alguns dos problemas ocasionados pelo adiamento forçado.
A foto refere-se ao casamento, em 31 de Dezembro de 1961, da Maria Augusta e do Albertino, este representado, por procuração, pelo seu irmão Henrique.

quinta-feira, fevereiro 19, 2009

Clube Recreativo e Beneficente de Salvador (CRBS)

Fundado em Junho de 1979, deu início às suas actividades a 20 de Junho desse mesmo ano, em edifício alugado para o efeito. Começando no âmbito recreativo e cultural, continuou, posteriormente, no desporto, nomeadamente, com o futebol e com o atletismo.
Embora os seus atletas não chegassem a estar federados, eles obtiveram bastantes sucessos, quer no futebol, quer no atletismo, tanto em torneios concelhios como inter-concelhos, tornando-se uma das equipas mais respeitadas.
Dos seus órgãos directivos destacam-se dois nomes: José Joaquim Landeiro, Presidente da Direcção e Manuel Justino Martins Caiado, sócio-fundador n.º 1 e Presidente da Mesa da Assembleia-Geral, que tudo fizeram no sentido de engrandecer este clube, para orgulho dos cerca de 500 sócios e dos salvadorenses em geral.
Infelizmente, o sucesso do CRBS foi efémero, porque os órgãos directivos que se seguiram pouco ou nada fizeram para o manter e desenvolver.
O Clube foi criado através de escritura pública na Conservatória de Penamacor, e o respectivo Estatuto foi publicado no Diário da República, III Série, n.º 180, de 6-8-1979.
Segundo os últimos dirigentes em funções, o CRBS já não existe. O que não querem, certamente, é honrar as suas responsabilidades, visto que o Clube, como associação legalmente criada, continua a existir, apesar da sua inactividade e do seu estado comatoso.
Atente-se, por exemplo, no teor do art.º 37.º do Estatuto, que diz: «O Clube poderá dissolver-se quando, em assembleia geral, convocada expressamente para esse fim, com a comparência de pelo menos três quartos dos seus sócios efectivos e votada favorável por quatro quintos dos presentes, se reconheça que, por falta de fundos, é impossível manter-se».
Por sua vez, o art.º 38.º preceitua: «Se for deliberada a dissolução, a assembleia geral nomeará uma comissão liquidatária, composta por três sócios e com a fiscalização directa de autoridade designada pelo Governo se encarregará da venda de móveis e imóveis, procedendo à liquidação do activo e passivo. O saldo entre activo e passivo será doado à Junta de Freguesia local, a fim de ser doado e distribuído pelas pessoas mais necessitadas desta localidade, podendo também ser doado a instituições de beneficência, se a assembleia geral optar por esse fim».
Da última acta registada - a Acta n.º 58, de 16-1-1986 -, nada consta sobre a matéria, pelo que é evidente o não cumprimento dos dois artigos do Estatuto, atrás transcritos.
Sendo assim, parece legítimo admitir que os últimos dirigentes em funções, que reuniram, pela última vez, naquela data, lavrando a acta correspondente, serão os responsáveis por todo o património que o Clube possuía, por ele respondendo perante todos os sócios, ou, eventualmente, também perante as entidades oficiais.


Texto e imagem cedidos pelo sócio n.º 1 do CRBS, Manuel Justino Martins Caiado

sábado, fevereiro 07, 2009

A escola nos anos setenta


Eram bem diferentes de agora as coisas na escola, nos idos anos setenta! Começava por os professores serem, para nós, como uns segundos pais. Tínhamos para com eles um respeito e uma obediência idênticos, se não superiores aos que devíamos aos nossos progenitores. Não era nada imposto: era assim mesmo, natural e assumido sem qualquer esforço, tanto por nós próprios como pelos nossos ascendentes.
O ensino, também ele era melhor: preparava para a vida. E era preciso estudar bastante: a tabuada e as contas, os rios e os reis, a fauna e a flora, as estradas de ferro e as outras, os descobridores e as descobertas... E por aí fora.
Não havia a panóplia enorme de livros e outros auxiliares, audiovisuais e electrónicos, que hoje enchem a mochila dos pobres alunos. A nossa sacola, de pano de riscado ou de ganga, era levíssima, e não impedia que corrêssemos e saltássemos, alegremente, com ela a tiracolo, no caminho da escola – caminho esse que percorríamos a pé, à chuva e ao sol, na brincadeira e sem que fosse preciso os nossos papás irem buscar-nos ou levar-nos.
Bons tempos aqueles. Cada dia que passa, mais sinto isso.

A foto, de 1971, foi cedida pelo Libério Candeias Lopes.

terça-feira, janeiro 27, 2009

A «Mestra» e as «Aprendizas»


Os nossos avós pouca mais roupa possuíam do que a que andava no corpo e a de ir à missa. Até nas pessoas consideradas remediadas o vestuário era praticamente reduzido a duas mudas: a das festas, dos casamentos e dos enterros – incluindo o do próprio, porque para a mortalha era sempre guardada a roupa melhor que se tinha; e «a de trazer», ou «de cote», frequentemente consertada e remendada, acontecendo muitas vezes uma peça ter tantos remendos, e de tecidos tão diferentes, que se tornava difícil distinguir o pano primitivo.
Os consertos eram feitos em casa, pelas mães; o novo era confeccionado pelo alfaiate e pela costureira: esta só fazia roupa de mulher, aquele, apenas a de homem. Ainda não havia pronto-a-vestir!
Numa altura em que o estudo só estava ao alcance de muito poucos e, ainda por cima, se considerava mal empregado em mulheres, para as quais se tinha por suficiente saberem das lides do lar, da criação dos filhos e do bem-estar da família. Certas competências, exclusivamente femininas, complementavam a formação da mulher, tornando-a mais capaz e «mais prendada».
O ofício de costureira gozava de certo estatuto em terras como a nossa, visto ser um trabalho digno, limpo e debaixo de telha, bastante melhor do que o do campo, e que estava na via correcta dos padrões vigentes para uma boa educação feminina.
A foto que incluímos é de 1961. Reúne uma mestra com as suas aprendizas. Creio que nenhuma delas veio a fazer uso da costura como ofício ou profissão, mas garanto que o tempo que passaram juntas foi muitas vezes ternamente recordado ao longo destas quase cinco décadas.

domingo, janeiro 18, 2009

O Amadeu e a Fatinha


Não chega a duas léguas de serra e pinhal a separar as povoações de Salvador e de Penha Garcia. Aliás, nos anos sessenta – data presumível desta foto –, o caminho era feito pelo sopé da Serra do Ramiro ou Ramilo (vulgarmente chamada de Serra do Salvador ou Serra de Penha Garcia). Entrava-se ali pelo caminho da Seixeira, seguia-se pelo Ribeiro do Souto, a passar junto do Pomar, Fonte de Carvalho, e era sempre em frente. Creio que nesse tempo ainda lá existia o barbeiro/dentista que iniciou a «limpeza» da minha dentição, extraindo-me os primeiros molares... a sangue frio!
O Amadeu e a Fatinha, que aqui acabaram de unir duas das famílias mais honradas destas localidades, já não pertencem ao número dos vivos. Foram retirados, inesperadamente, ainda bastante jovens, ao convívio dos seus familiares e amigos.
Ficou o desgosto e a saudade... mais o fugaz lenitivo que imagens maravilhosas, como esta, nos podem proporcionar.

Foto cedida por José Manuel Borrego Ribeiro