segunda-feira, setembro 27, 2010

Verão de 1950



Verão de 1950. Está de férias, no Salvador, Clemência Caiado, com seu marido e filhas. Trata-se, apenas, de uma pequena parte da numerosa família salvadorense dos Caiados que, em tempos, se repartia entre o Salvador e o Norte de Angola, onde, convocando sempre mais parentes, se foram concentrando até atingirem um número bastante elevado de membros, quando, em consequência da atribulada descolonização revolucionária, tiveram de largar tudo o que juntaram e possuíam na terra onde vertiam o seu laborioso e honrado suor, onde viviam e tiveram filhos; naquela terra que tinham como sendo também a sua terra.
A família Caiado era das mais conceituadas da nossa terra: modestos lavradores, mas gente da mais trabalhadora, da mais pacata e da mais séria que o Salvador tinha.
As fotografias são do mesmo tempo, apesar da curiosidade de mostrarem diferentes «meios de transporte». Há um núcleo de gente mais jovem que figura em ambas as imagens: a própria Clemência Caiado e as filhas, a Fernanda Silva, a Ilda Gonçalves, a Hermínia Borges. Na de cima vemos ainda: Manuel Caiado e mulher – os pais –; a Carolina Borges; a Emília, mulher do sargento Silva e mãe da Fernanda; um casal que não sei identificar; a Laura Robalo e, finalmente, Zeferino Miguel (cabo da Guarda Fiscal de Salvador, marido de Carolina, pai de Hermínia, vizinhos e amigos da família Caiado).
Fotos cedidas por Ilda Gonçalves e seu marido Leonel Salvado.

terça-feira, setembro 21, 2010

Zé Manel Robalo


Quando já se passaram os setenta, parece que rejuvenescem as nossas lembranças de juventude: da teia enorme de amigos, de primos, de tios e de outros familiares, e até de vizinhos, que compunham a nossa corte de então; do fantástico bulício dos quotidianos da nossa aldeia, com os trabalhos do campo, a escola, a catequese, a animação domingueira, as festas…
Nos papéis deixados pelo meu pai, estava esta imagem publicitária de um artista - Amaral Roballo -, com uma dedicatória simples: «Para os compadres»
Ora, o Amaral Roballo, que já andará perto dos setenta, era efectivamente o filho único de meus padrinhos Adozinda Amaral e José Robalo (daí tratar os meus pais de compadres). Foi meu companheiro de garoto, se bem que um pouco mais novo, e era meu vizinho de rua, para além da proximidade familiar já referida.
A vida, porém, tem os seus rumos para cada um, os quais, normalmente, vão divergindo à medida que vamos crescendo. O percurso do Zé Manel incluiu África, nomeadamente Angola, e foi parar no Algarve, onde casou e acabou por se radicar.
Malfadadamente, muito poucas vezes nos encontrámos depois de homens.
Não sei se o Zé ainda pratica vida artística, uma vez que ele foi sempre extraordinariamente dotado para as artes do espectáculo e para a comunicação em geral.
A imagem dá disso boa conta, mas funciona aqui, principalmente, como a oportunidade de Salvador Barquinha d’Oiro - Blogue do Salvador de Outros Tempos homenagear um destacado salvadorense e um muito prezado amigo de infância.

domingo, setembro 12, 2010

Gente do meu tempo




No longínquo ano de 1963, mais precisamente no dia 17 de Abril, contraíam matrimónio, na igreja de Salvador, dois jovens e particulares amigos do meu tempo: a Lurdes Arrojado e o Zeca Amaral (o Zé era meu companheiro das tropelias e folguedos de juventude; a Lurdes ficou minha «comadre», a partir duma das cerimónias pagãs da célebre Quinta-Feira de Comadres, que comemorávamos rigorosamente na Quaresma daquele tempo.
O celebrante foi o padre António Robalo Ramos, e nas fotos podemos também ver muitos familiares e amigos dos noivos: os mais velhos já desaparecidos, para darem lugar aos que, então, eram crianças e jovens cheios de vida.
(As fotos foram cedidas pela Ilda e pelo Leonel Salvado)

segunda-feira, setembro 06, 2010

Figuras de Salvador


Salvador Barquinha d'Oiro vai hoje lembrar o conterrâneo Tó Cataninho (1926-1983), uma figura das mais castiças da nossa terra. De seu nome António Ricardo, era filho de Ricardo Caetano e de Maria Serrano (vulgarmente conhecida como Roca).
Comunicativo, jovial e folgazão, o Tó era senhor de um chiste sempre pronto e de uma troça implacável de qualquer um que afinasse com as suas graças, nem sempre inocentes. O melhor era mesmo sorrir e deixar passar...
Contrabandista, trabalhando geralmente à noite, passava os dias pelas tabernas, jogando um truco ou uma raioula, sem praticamente ir a casa. Ela não lhe cairia em cima, costumava dizer.
O almoço era uma escapada breve, para uma rápida sopa, e voltar de fatoco de pão e tora de chouriça na mão esquerda e navalha na direita, comendo pela rua a fora, em direcção à partida interrompida, mas não se coibindo, pelo caminho, de gozar o coxo, de arremedar a muda ou de atentar algum velhote que passasse por ele na ocasião.
Costuma dizer-se que homens reinadios são homens bons, e isso era mesmo verdade com o Tó Cataninho.

quarta-feira, setembro 01, 2010

A festa de Salvador


Aproxima-se mais um primeiro fim-de-semana de Setembro, a data que a aldeia de Salvador dedica à sua entidade religiosa de eleição, Santa Sofia.
Celebrada desde tempos imemoriais – documentadamente desde o início do século XVIII – em seu redor se juntam todos os salvadorenses, residentes ou não, ao ponto de identificarem a Santa Sofia com a sua própria terra, que amam de todo o coração.
Umas vezes mais religiosa, outras mais profana, a festa tem conhecido, no primeiro caso, fama de grande romaria regional, emparelhando com a Senhora da Azenha, com a Senhora da Póvoa, ou, mesmo, com a Senhora do Almurtão; do ponto de vista dos divertimentos populares que proporciona, a Santa Sofia primou sempre por grandes cartazes, tendo, em anos não muito longínquos, preenchido o seu programa com artistas e conjuntos de primeiro plano nacional, quer em projecção artística quer em custos de cachê.
Em tempos de crise as coisas são diferentes, mas nem por isso a festa de Santa Sofia deixa de continuar a ser o catalisador da comunhão anual de todos os salvadorenses.