quarta-feira, agosto 15, 2012

Gente da minha rua (2)


Já aqui referi a minha rua – a Rua da Cinza –por várias vezes. Não mo levarão a mal, certamente, e julgo que também os que me lêem gostarão de evocar os locais que maiores lembranças lhes proporcionam, como é o caso da rua que os viu nascer e/ou crescer para a vida.
Trago hoje aqui uma fotografia de um casal da minha rua, Manuel Manteigas Raposo e Leonor de Oliveira, ele exercendo o honrado ofício de sapateiro e ela doméstica. Tiveram (se a memória me não atraiçoa) cinco filhos: o Américo, a Maria, o António, o Ismael e a Lurdes. Esta era a mais nova, nascida em 1937 (tal como este vosso amigo), mas infelizmente já falecida há alguns anos.
Manuel Raposo era, para além de profissional muito considerado, um homem bastante esclarecido para a sua terra e a sua época. Era dos poucos salvadorenses alfabetizados, interessados e participantes nos assuntos comunitários, sociais e políticos.
Recordo que, nos anos cinquenta, homens como Manuel Raposo, José Calamote e Frederico Costa, se quotizaram para assinar e ler o jornal República, e, com alguns outros, se reuniam muitas vezes para falarem de assuntos mais gerais, que extravasavam as meras rotinas salvadorenses.

A foto foi-me facultada pelo estimado amigo Manuel Sebastião, viúvo da Lurdes Raposo.

terça-feira, agosto 07, 2012

Gente da minha rua


Moravam na minha rua, a Rua da Cinza, e era um casal extremamente simpático, que eu já conheci  com muita idade, bastante velhos mesmo, quando comecei a reparar em pessoas, para além dos meus familiares chegados e dos outros garotos, meus colegas da brincadeira.
Maria Bárbara Robalo e António Amaral Antunes, ambos de pequena estatura, ela doméstica e ele alfaiate e barbeiro, acumulando, como era de uso naqueles recuados tempos, com funções virtuais de médico, de cirurgião, de farmacêutico, de dentista e de enfermeiro, que não existiam no Salvador de então.
António Amaral Antunes era das poucas pessoas da terra que sabia ler e escrever,possuindo, ainda, vasta gama de conhecimentos empíricos. Para lá dos ofícios que exercia, e de que vivia, teve oportunidade de aliviar dores e curar certas maleitas aos seus conterrâneos, chegando a salvar vidas com os seus serviços e saberes, o que, de outro modo, seria impossível. Ainda lhe sobrava tempo paras funções cívicas: em 1926 integrava, como secretário, a Junta de Freguesia de Salvador, juntamente com  o prof. Manuel Vicente Moreira e com José Antunes Peres.
António Amaral Antunes já faleceu há muito tempo, com 82 anos. Era pai de Manuel Amaral Antunes, também há muito falecido, que seguiria o pai nos ofícios, nos saberes e na consideração pública, apesar de já em tempos diferentes, e avô do nosso particular amigo de infância, José Gonçalves Amaral, ou Zeca Amaral, também salvadorense de qualidade, também ele já a aproximar-se seriamente dos oitenta.

A fotografia foi-nos cedida por  Leonel Salvado, a quem agradecemos.

Umas férias em Salvador

O Salvador Barquinha d’Oiro – Blogue do Salvador doutros tempos está a ficar muito atrasado. Faz hoje precisamente seis meses que deu à estampa – ou ao ciberespaço – o seu último artigo.
Não temos desculpa para o facto, portanto não vamos queixar-nos da falta de tempo, nem da falta de assunto, nem da falta de disposição, nem, ao menos, acusar a crise global ou confessar a nossa preguiça de estimação. Ninguém nos acreditaria, em qualquer dos casos.
Chegados a este ponto, o melhor é mesmo fazer qualquer coisa.
Já vai entrado Agosto, e temos mais uma Santa Sofia à porta. É altura dos salvadorenses passarem uns dias na sua terra, para matarem saudades da família, dos seus amigos ou dos seus antigos companheiros.
A foto acima, de cerca de 1980, é apenas uma «repetição» de tantas outras onde, ao longo da vida, os salvadorenses registam os momentos mais marcantes e os recantos mais emblemáticos de uma férias na sua terra.
Alguns destes rapazes já não nasceram em Salvador, mas aguardaram ansiosamente pelas férias, para repetirem esta cena e se deliciarem, na companhia dos seus amigos, com os inigualáveis passeios ao cimo da serra, nas tardes quentes do verão de Salvador.