quinta-feira, junho 05, 2008

«Dancing» dos anos 1930


Os grandes dancings do Salvador eram os terreiros, bem conhecidos dos jovens e dos adultos.
Nos domingos da parte das manhã, alguém com um regador borrifava o terreiro, para abater o terreno e não levantar o pó, na hora da dança.
Era ver as raparigas com os belos vestidos domingueiros alegrarem o ambiente e como era lógico os rapazes de camisa branca, colete escuro, calças no mesmo tom, cravo na orelha ou no bolsinho do colete, o bom perfume da época, encherem o terreiro. Ali aguentavam na cavaqueira e chalaça até chegar o homem da gaita de beiços, «o realejo», e começar a executar o seu variado e belo repertório musical, para os rapazes se dirigirem à moça predilecta, a pedir a mão para iniciar o baile.
Se alguma moça ficava sem par, pegava noutra e fazia com ela perna de dança, até aparecerem dois moços a interrompê-las, para mais dois pares engrossarem a roda.
Eram escassas as horas, para o convívio alegre.
Os casados de fresco não dispensavam a sua exibição.
Só em dias de grande gala aparecia um tocador de concertina, contratado pelos moços mais briosos do Salvador. Além do passeio domingueiro até ao Alto da Serra, era o único divertimento da mocidade, só interrompido na Quaresma e no Advento, por respeito às épocas litúrgicas penitenciais.
Este dancing tinha óptimo ar, não precisando de aparelhos e de boa iluminação.
Os mais idosos transportavam uma cadeirinha ou um tropeço, para ali passarem a tarde e garantirem o ambiente de respeito. O horário ia até ao toque das Trindades, hora sagrada para o regresso ao lar.
Assim se passavam, com grande animação e sã alegria,. as tardes domingueiras.

Pe. Henrique

3 comentários:

Joaquim Baptista disse...

Acredito que estes movimentados domingos, até para mim seriam uma grande "seca". Sinais dos tempos

AC disse...

Confesso que não entendo o comentário do Joaquim Baptista.
Aqueles bailaricos eram a única forma de rapazes e raparigas se aproximarem uns dos outros! Naqueles tempos de pré-rádio, pré-TV, pré-gira-discos, pré-todas- essas-coisas-deste-tempo, eles eram uma bênção!
Não eram «seca» para ninguém, como não o seriam para o Joaquim Baptista se tivera nascido trinta ou quarenta anos antes.

Anónimo disse...

Aliás ainda hoje os meu pais me falam desses bailaricos com muita saudade! Era uma espécie de acontecimento social...era um encontro para os namorados, a oportunidade para estriar o vestido, que as próprias jovens costuravam, era o local onde se falava das novidades, e pelos vistos eram bem divertidos...