domingo, março 28, 2010

A visita pascal ou «as boas-festas»


No final da década de trinta, quando esta fotografia foi feita, ainda a visita pascal (que as pessoas conheciam por «dar as boas-festas») era um acontecimento da máxima importância para as gentes laboriosas e humildes na nossa aldeia, e a marca indelével do Domingo de Páscoa. Após a missa, o pároco calcorreava toda a povoação, para abençoar as casas e as famílias. Fazia-se acompanhar do sacristão e de um séquito de ajudantes ou acólitos, entre os quais dois meninos da catequese, que levavam a campainha e a caldeirinha da água benta, e alguns homens para carregarem as ofertas dos casais. À chegada, o chefe da família recebia o pároco e conduzia-o junto dos seus. O padre lançava a bênção e aspergia as pessoas e a casa com água benta. O sacristão dava a cruz a beijar e a visita passava à família seguinte, enquanto os referidos ajudantes recolhiam a oferenda, que raras vezes era dinheiro, mas quase sempre queijos, ovos, galinhas, ou outros produtos de casa. A visita pascal terminava já noite dentro, e, quando o pároco regressava, aguardava-o um grupo de cantadeiras, com adufes, que lhe cantavam as «Alvíssaras», e às quais o padre retribuía com a oferta de amêndoas.
Na imagem, o sacerdote é o padre Jaime Soares Ribeiro (substituído em 1945 pelo padre António Robalo Ramos) e o menino da campainha é o futuro padre Henrique da Cruz Monteiro, já várias vezes referido neste blogue, e único padre nascido em Salvador, até ao momento.

Foto cedida pelo padre Henrique da Cruz Monteiro

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