sábado, agosto 08, 2009

A Casinha


A casa dos meus pais era muito pequenina. Aliás, ela já resultara da divisão, ao meio, da casa de meus avós paternos, também ela já pequena. Ficava situada na Rua da Cinza, uma das artérias mais movimentadas de Salvador, por ser o caminho privilegiado entre o centro do povoado e a zona dos palheiros e das hortas.
Numa parte do local antes consagrado ao logradouro, encostado à rua, o meu pai fez uma divisãozinha independente, destinada a oficina da sua arte de sapateiro. Era a casinha.
A casinha era, pode dizer-se sem medo de errar, o local mais visitado e frequentado da freguesia, logo a seguir à igreja.
A razão é simples e há duas explicações para o facto. A primeira é que ali se vendiam os selos, se registavam as cartas e era aberta a mala do correio: e à porta da casinha se distribuía a correspondência aos que ansiosamente aguardavam por notícias; a outra, é que o Ti Zé Violas não era apenas sapateiro, mas um salvadorense muito popular e considerado, que atraía, à sua oficina, imensas pessoas, sobretudo das que estavam a férias, para uma boa partida de damas, para umas divertidas anedotas ou, mesmo, para elevada tertúlia, onde se debatiam os problemas mais candentes da actividade política do país.
A casinha, como o Ti Zé Violas, já não existe.
Tudo muda com o tempo.
A própria Rua da Cinza já não parece a mesma.

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