segunda-feira, julho 25, 2011

O primos Calamotes

Toda a minha vida me lembro desta fotografia estar numa moldura pendurada na parede da sala da nossa casa. Ela retrata os primos Calamotes, uns primos muito considerados pelos meus pais, que eu ainda conheci e recordo com muita saudade. Não andarei  longe da verdade se afirmar que data, pelo menos, de 1940.
Não saberei dar muitos pormenores sobre o parentesco: sei apenas que não eram primos em primeiro grau, apesar de ele se chamar José Calamote – o mesmo nome de meu pai. A esposa era Maria de Andrade. Moravam na Rua da Salgadeira, no canto em frente da antiga escola feminina. Não tinham filhos, mas criaram consigo uma afilhada (Maria), que é também de família Calamote, e que veio a herdá-los.
José Calamote era reformado da Guarda Fiscal e era homem de um porte imponente: alto, forte e bem-posto, como, de resto, a imagem bem mostra.
Estão ligadas a este casal gratas recordações da minha infância, porventura até as mais remotas que conservo. Mantenho ainda indeléveis os agradáveis serões de inverno que frequentemente íamos passar à casa deles, os quais começavam sempre pelas conversas sérias, próprias das vidas e das preocupações dos adultos, mas que, passado algum tempo, e perante a minha impaciência, davam lugar às larachas, aos contos e às histórias que eu tanto gostava de ouvir. Acontecia, ainda, ser convidado a emparceirar  no jogo do burro com que invariavelmente acabavam o serão. Este era um jogo de cartas que consistia em livrarmo-nos das cartas que tínhamos na mão, porque acumularíamos um ano de burro por cada uma que não conseguíssemos descartar.
Eu era bem pequeno, mas eles davam-me grande atenção e eu mantenho-os vivos na minha memória passados todos estes anos.

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