terça-feira, janeiro 27, 2009

A «Mestra» e as «Aprendizas»


Os nossos avós pouca mais roupa possuíam do que a que andava no corpo e a de ir à missa. Até nas pessoas consideradas remediadas o vestuário era praticamente reduzido a duas mudas: a das festas, dos casamentos e dos enterros – incluindo o do próprio, porque para a mortalha era sempre guardada a roupa melhor que se tinha; e «a de trazer», ou «de cote», frequentemente consertada e remendada, acontecendo muitas vezes uma peça ter tantos remendos, e de tecidos tão diferentes, que se tornava difícil distinguir o pano primitivo.
Os consertos eram feitos em casa, pelas mães; o novo era confeccionado pelo alfaiate e pela costureira: esta só fazia roupa de mulher, aquele, apenas a de homem. Ainda não havia pronto-a-vestir!
Numa altura em que o estudo só estava ao alcance de muito poucos e, ainda por cima, se considerava mal empregado em mulheres, para as quais se tinha por suficiente saberem das lides do lar, da criação dos filhos e do bem-estar da família. Certas competências, exclusivamente femininas, complementavam a formação da mulher, tornando-a mais capaz e «mais prendada».
O ofício de costureira gozava de certo estatuto em terras como a nossa, visto ser um trabalho digno, limpo e debaixo de telha, bastante melhor do que o do campo, e que estava na via correcta dos padrões vigentes para uma boa educação feminina.
A foto que incluímos é de 1961. Reúne uma mestra com as suas aprendizas. Creio que nenhuma delas veio a fazer uso da costura como ofício ou profissão, mas garanto que o tempo que passaram juntas foi muitas vezes ternamente recordado ao longo destas quase cinco décadas.

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