domingo, julho 04, 2010

Lembrando o Ultramar


Ora, o militar sou eu, aqui entre os meus dois irmãos e seus familiares, no cais de Alcântara, em 30 de Junho de 1961, junto ao navio Niassa, à espera de embarcar para o Ultramar.
Não se pode inferir que haja tristeza nos olhares, apesar de se adivinhar também existir aqui um esforço de vontade à recomendação do fotógrafo: – Então... É para a posteridade!
Começavam novos tempos em Portugal e também em Salvador. Apesar de um ou outro salvadorense ir trabalhar para a cidade, até aí a mobilidade dos nossos rapazes resumia-se à vida militar. Era a tropa que vinha tirar os homens da terra, devolvendo-os após lhes ministrar determinada instrução que, para a maioria, era também cívica e cultural para o resto da vida.
Com o problema do Ultramar, a vida militar ficou mais exigente: o tempo de serviço aumentou, a distância e os riscos também, e o recrutamento passou a ser quase generalizado. No Salvador, e nas outras terras, podem contar-se pelos dedos os rapazes que se escaparam ao serviço militar, nos longos treze anos do conflito ultramarino.
Não quero enumerar as consequências nefastas para tanta gente desta geração, que passou e passa dificuldades várias; que perdeu vidas (Salvador deu duas: o Júlio Antunes Sapo e o José Maria da Silva); que esteve e continua a estar esquecida pela Nação.
Pior só o ostracismo e o desprezo que as consciências emergentes do 25 de Abril de 1974 votaram ao enorme esforço desses tantos rapazes do meu tempo, que, aliás, foi altruísta, abnegado e patriótico, como seria impossível agora!
– E se nós, salvadorenses de hoje, tratássemos de honrar e homenagear essa gente, com um singelo monumento na nossa terra?

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