
quinta-feira, dezembro 30, 2010
Ano Novo

domingo, dezembro 19, 2010
Natal 2010 – Ano Novo 2011
quarta-feira, dezembro 08, 2010
Assentar praça





O serviço militar obrigatório terminou oficialmente em 19 de Novembro de 2004, mas já alguns meses antes deixara de ser feito o recrutamento de conscritos, ou seja, os rapazes com idade de servir à tropa deixaram de ser recrutados e obrigados a ir às sortes, a ir à inspecção, a assentar praça, deixando de ser, assim, retirados, às suas famílias e aos seus empregos, por um período variável, nunca inferior a dezoito meses, mas que poderia ir até três ou mais anos.
O futuro dirá se é bom ou se é mau, mas, no meu tempo, em Salvador, era este um período muito importante das nossas vidas, dado que, sobretudo para os naturais da província, fazer o serviço militar representava um apreciável salto qualitativo em termos das hipóteses possíveis de um futuro diferente, com outras expectativas de qualidade de vida, que a aldeia não podia, naturalmente, proporcionar.
São de 1958 as fotos, deste vosso amigo, que darão uma ideia (favorável) da primeira fase do serviço militar – a instrução – que nos aguardava logo que assentávamos praça.
terça-feira, novembro 30, 2010
«Sarra-se» a Velha

Homens e rapazes folgazões, muniam-se de cortiços de abelhas vazios, que friccionavam com um sarrafo (pau rugoso), produzindo um ruído ensurdecedor e irritante. Aos gritos «sarra-se a velha!, sarra-se a velha!», juntavam grande algazarra de vozes, latas e chocalhos. A chinfrineira obrigava a visada a vir para a rua a gritar com eles e a expressar a sua ira com a «malandragem», que assim atingia os seus objectivos de obrigar a pobre velhota a saltar da cama e a apanhar tamanha «braveira» e irritação.
Pode parecer agora absurdo, mas as pessoas não se escandalizavam com estes actos de chacota e de aparente má-educação perante pessoas idosas, quase sempre escolhidas entre as mais desfavorecidas e sozinhas: era a tradição que, ao tempo, imperava, e fazia parte das diversões inocentes e costumeiras, sempre aguardadas, com ansiedade, na altura própria de cada ano.
sábado, novembro 20, 2010
Gente bonita de Salvador

O menino da imagem é o nosso amigo e companheiro de infância Alcino Lopes, que ali faz companhia a sua irmã Alice; as restantes meninas são a Ilda Gonçalves, a Augusta e a Alice Afonso, a Patrocínia Ferreira, a Lurdes Leitão, a Ilda e a Fernanda Silva, a Milúcia, a Alda e a Dulce Frederico. Na fila detrás figuram, «cortadas», mais três pessoas que não conseguimos identificar.
A fotografia é de cerca de 1950 e foi-nos facultada pela Ilda Gonçalves.
sábado, novembro 06, 2010
1890 – Escola em Salvador

Não imaginamos, hoje, como viveria, o Salvador de 1890, tal afronta por parte dos nossos mais antigos aliados, mas podemos ver, através dos mapas da imagem, que, na nossa terra, os meninos e as meninas já iam à escola e em número bastante razoável, tendo em conta o «obscurantismo» que os republicanos apregoavam, referindo-se à fraca alfabetização do país.
Como se vê, a freguesia já tinha um professor, Manuel Vicente Moreira (1868-1941), natural de Salvador, e uma professora, com quem veio a casar, Júlia Maria Rodrigues da Silva, que aqui exercia o magistério.
segunda-feira, outubro 25, 2010
Oito dias antes dos Santos

Havia a consciência de que o trabalho é que sustentava a barriga, que não as letras.
As crianças, à idade escolar, já tinham as suas tarefas definidas no seio da família, ajudando na medida das suas forças, já que mais não fosse tomando conta dos irmãos mais novos. As famílias eram numerosas, e a razão principal estava em que a terra sempre foi parca em alimentar as pessoas e todos eram poucos para a amanhar.
Quanto à literacia, arranjava-se sempre quem escrevesse uma carta ou lesse o que dizia o ofício da Fazenda; o resto resolvia-se com o saber da experiência transmitido de pais para filhos.
Adélia dos Santos (1899-1996), a anciã da imagem, era «mulher de guarda», e este, o guarda, era um dos poucos salários certos lá da terra, o que lhe conferia, só por si, um estilo de vida acima da média naquele tempo em Salvador. Porém, e não obstante fosse extraordinária como mulher, como dona de casa, como mãe, etc., inseria-se na grande maioria dos analfabetos daquele tempo.
Não lhe faltava expediente, nem vivência nem cultura: esteve na Alemanha, em Angola e em Moçambique, de visita a filhos que ali residiam à época, mas Adélia dos Santos nunca soube o ano em que nasceu, e, quanto ao dia, dizia, simplesmente, que nascera oito dias antes dos Santos.
É hoje, 25 de Outubro, e dai esta homenagem.
A foto foi tirada em Luanda, no início dos anos setenta. Adélia dos Santos está com a filha Augusta, o genro Albertino, os netos Fátima e Zé Carlos. O aviador é o meu sobrinho Tó Zé, em visita de passagem.
quinta-feira, outubro 21, 2010
Tempo do Serviço Militar

Nos tempos que correm, a civilização, através dos modernos meios de comunicação, vai de encontro às gentes onde quer que se encontrem; naquele tempo era necessário que as pessoas deixassem as suas terras e fossem procurá-la noutras paragens.
Castelo Branco, com as suas unidades militares – Regimento de Cavalaria 8 e Batalhão de Caçadores 6 – era o centro mais próximo, que reunia as centenas de jovens da região, e lhes ministrava, além da formação militar, uma parte muito substancial e importante da formação cívica, moral e cultural para a vida, a ponto de, para a maior parte dos jovens, ser relevante e muito nítida a diferença, para melhor, entre o «antes» e o «depois» do serviço militar.
A foto é de 1959 e mostra, em acção, a fanfarra do Batalhão de Caçadores 6 que, naquele tempo, nos domingos de manhã, tinha por hábito evoluir pelas ruas circundantes do quartel, espelhando o aprumo, o garbo e a disciplina que eram apanágio da formação militar, e tão úteis e necessários eram para a juventude.
terça-feira, outubro 05, 2010
O fascínio da fotografia

Nesta ocasião, o local foi a entrada da «nossa escola», na estrada, próximo do Alto da Serra. Eu fiquei do lado de cá, a disparar para o Leonel Salvado, para o Zeca Amaral e para o João Bicho.
Quando disse a «nossa escola», quis mesmo dizer que ela era também a dos pequenos mirones, visto que somente em 1960 deixou de ser a única escola masculina lá da terra.
Foto cedida pelo Leonel Salvado.
segunda-feira, setembro 27, 2010
Verão de 1950


A família Caiado era das mais conceituadas da nossa terra: modestos lavradores, mas gente da mais trabalhadora, da mais pacata e da mais séria que o Salvador tinha.
As fotografias são do mesmo tempo, apesar da curiosidade de mostrarem diferentes «meios de transporte». Há um núcleo de gente mais jovem que figura em ambas as imagens: a própria Clemência Caiado e as filhas, a Fernanda Silva, a Ilda Gonçalves, a Hermínia Borges. Na de cima vemos ainda: Manuel Caiado e mulher – os pais –; a Carolina Borges; a Emília, mulher do sargento Silva e mãe da Fernanda; um casal que não sei identificar; a Laura Robalo e, finalmente, Zeferino Miguel (cabo da Guarda Fiscal de Salvador, marido de Carolina, pai de Hermínia, vizinhos e amigos da família Caiado).
Fotos cedidas por Ilda Gonçalves e seu marido Leonel Salvado.
terça-feira, setembro 21, 2010
Zé Manel Robalo

Nos papéis deixados pelo meu pai, estava esta imagem publicitária de um artista - Amaral Roballo -, com uma dedicatória simples: «Para os compadres»
Ora, o Amaral Roballo, que já andará perto dos setenta, era efectivamente o filho único de meus padrinhos Adozinda Amaral e José Robalo (daí tratar os meus pais de compadres). Foi meu companheiro de garoto, se bem que um pouco mais novo, e era meu vizinho de rua, para além da proximidade familiar já referida.
Não sei se o Zé ainda pratica vida artística, uma vez que ele foi sempre extraordinariamente dotado para as artes do espectáculo e para a comunicação em geral.
A imagem dá disso boa conta, mas funciona aqui, principalmente, como a oportunidade de Salvador Barquinha d’Oiro - Blogue do Salvador de Outros Tempos homenagear um destacado salvadorense e um muito prezado amigo de infância.
domingo, setembro 12, 2010
Gente do meu tempo


O celebrante foi o padre António Robalo Ramos, e nas fotos podemos também ver muitos familiares e amigos dos noivos: os mais velhos já desaparecidos, para darem lugar aos que, então, eram crianças e jovens cheios de vida.
segunda-feira, setembro 06, 2010
Figuras de Salvador

Comunicativo, jovial e folgazão, o Tó era senhor de um chiste sempre pronto e de uma troça implacável de qualquer um que afinasse com as suas graças, nem sempre inocentes. O melhor era mesmo sorrir e deixar passar...
Contrabandista, trabalhando geralmente à noite, passava os dias pelas tabernas, jogando um truco ou uma raioula, sem praticamente ir a casa. Ela não lhe cairia em cima, costumava dizer.
O almoço era uma escapada breve, para uma rápida sopa, e voltar de fatoco de pão e tora de chouriça na mão esquerda e navalha na direita, comendo pela rua a fora, em direcção à partida interrompida, mas não se coibindo, pelo caminho, de gozar o coxo, de arremedar a muda ou de atentar algum velhote que passasse por ele na ocasião.
Costuma dizer-se que homens reinadios são homens bons, e isso era mesmo verdade com o Tó Cataninho.
quarta-feira, setembro 01, 2010
A festa de Salvador

Umas vezes mais religiosa, outras mais profana, a festa tem conhecido, no primeiro caso, fama de grande romaria regional, emparelhando com a Senhora da Azenha, com a Senhora da Póvoa, ou, mesmo, com a Senhora do Almurtão; do ponto de vista dos divertimentos populares que proporciona, a Santa Sofia primou sempre por grandes cartazes, tendo, em anos não muito longínquos, preenchido o seu programa com artistas e conjuntos de primeiro plano nacional, quer em projecção artística quer em custos de cachê.
Em tempos de crise as coisas são diferentes, mas nem por isso a festa de Santa Sofia deixa de continuar a ser o catalisador da comunhão anual de todos os salvadorenses.
terça-feira, agosto 10, 2010
A Farda

Quando eu era rapaz, andavam fardados os militares, os guardas e os polícias, os funcionários dos comboios, dos eléctricos e dos autocarros; os do correio e dos telefones, os padres, os taxistas, os moços-de-fretes, os cauteleiros e tantos outros profissionais de então. Tempos houvera, de resto, em que até os deputados usavam o seu próprio uniforme...
A farda era, assim, considerada factor de grande prestígio e de honra para a instituição que representava; era motivo de considerável apreço para os cidadãos que se reviam nas suas virtualidades nacionais e sociais; e era condição de inegável garbo, mas também de muita responsabilidade, para os agentes que as envergavam.
Depois do «25 de Abril», as fardas foram desaparecendo, porventura em nome de complexos de antigo regime, ou de modernos conceitos de igualdade e de liberdade, que, entre outros «benefícios», nos impediram de passear, à tardinha ou à noitinha, calmamente, pelos jardins e pelas ruas; de dormir de janela aberta ou com a chave na porta, sem que sejamos barbaramente assaltados, apesar de, é bom que se diga, podermos expressar-nos (quer dizer refilar) sem nos levarem presos.
A imagem é do dia do casamento do meu irmão Aníbal, há sessenta e tal anos, em Nisa, envergando, na mais importante cerimónia da sua vida, a farda de jovem guarda-fiscal.
segunda-feira, agosto 02, 2010
Fundo da estrada e Cimo da serra

A maioria dos salvadorenses sabe que o «fundo da estrada» é o troço que vai desde a igreja até onde agora é a Junta de Freguesia, e que o «cimo da serra» é a zona da portela da estrada de Salvador quando acaba a subida e começa a descer para Aranhas.
Sempre me fez muito confusão dizerem que o «fundo» era da estrada, e que o «cimo» era da serra. Ninguém me deu uma razão, mas há razões aparentemente sem razão nenhuma!
Ah! A foto é no «cimo da serra», em 1957. Vêem-se três jovens, o Henrique Leitão, o Zé Manel Robalo e eu (o Zeferino Afonso não se vê porque foi o fotógrafo), e dois aspirantes a jovens, os meus primos Zé Manel e Manel António, filhos do meu tio/primo José Arraquel, aos quais, só por isso, consentíamos que ouvissem as nossas conversas de gente crescida.
domingo, julho 25, 2010
Lembrando amigos

Começara a década de setenta, andávamos pelos trinta e poucos anos de idade e estávamos em Luanda. Era uma altura em que os militares de carreira andavam para lá e para lá, em sucessivas comissões.
Três camaradas, depois três grandes amigos, tiveram a sorte de, à terceira, poderem, finalmente, mandar ir a família para junto de si. E foram alguns meses de franca convivência entre eles e as respectivas famílias, que, assim, cimentaram uma enorme amizade que, apesar dos que já partiram, se continua pelos mais novos, que, de resto, já têm filhos maiores do que eles aqui eram na imagem.
A foto, de 1971, foi tomada no, então, Bairro Salazar, na zona dos quartéis e para os lados do aeroporto. Nela participaram o Abel Figueiredo (que foi o fotógrafo) e, da esquerda para a direita, José Carlos Calamote, Adélia dos Santos, Fátima Calamote, Maria Augusta Calamote, Fernando Monteirinho, Fernando Manuel Monteirinho, Albertino Calamote, Vítor Figueiredo, Pedro Monteirinho, Maria de Lurdes Monteirinho e Maria de Lurdes Figueiredo.
segunda-feira, julho 12, 2010
Água velha / Água nova

Nesta época da água engarrafada (ou engarrafonada) toda a gente bebe água velha. Alguma, até, porventura, já fora do prazo de validade...
O Salvador de outros tempos era conhecido pela abundância e qualidade das suas águas, que jorravam, frescas e gratuitas, das suas nascentes, particularmente da Fonte do Povo e do Chafariz do Cerrado, mais conhecido por Chafariz da Capela. Era também bebida pela população a água doutras fontes rurais, bem como de grande parte dos poços das hortas, sobretudo durante os trabalhos de campo e das regas estivais, em que tinha maior tiragem.
Em nossas casas, a água de beber estava nos cântaros de barro, logo à entrada, sobre a cantareira. No Verão usavam-se ainda as cântaras, ou cantarinhas, também de barro, que, assim que a sombra dava no balcão, se traziam cá para fora, para receberem a brisa da tarde ou da noite.
Só Deus sabe como certas vasilhas de barro faziam a água fresquinha e gostosa de se beber! Não tinha marca nem custava dinheiro. Era água puríssima e rigorosamente nova, substituída todos os dias nos cântaros, porque, diziam as nossas queridas mães: «Logo de manhã arruma-se o asado à telha, porque água de ontem é água velha[1]!».
domingo, julho 04, 2010
Lembrando o Ultramar

Não se pode inferir que haja tristeza nos olhares, apesar de se adivinhar também existir aqui um esforço de vontade à recomendação do fotógrafo: – Então... É para a posteridade!
Começavam novos tempos em Portugal e também em Salvador. Apesar de um ou outro salvadorense ir trabalhar para a cidade, até aí a mobilidade dos nossos rapazes resumia-se à vida militar. Era a tropa que vinha tirar os homens da terra, devolvendo-os após lhes ministrar determinada instrução que, para a maioria, era também cívica e cultural para o resto da vida.
Com o problema do Ultramar, a vida militar ficou mais exigente: o tempo de serviço aumentou, a distância e os riscos também, e o recrutamento passou a ser quase generalizado. No Salvador, e nas outras terras, podem contar-se pelos dedos os rapazes que se escaparam ao serviço militar, nos longos treze anos do conflito ultramarino.
Não quero enumerar as consequências nefastas para tanta gente desta geração, que passou e passa dificuldades várias; que perdeu vidas (Salvador deu duas: o Júlio Antunes Sapo e o José Maria da Silva); que esteve e continua a estar esquecida pela Nação.
Pior só o ostracismo e o desprezo que as consciências emergentes do 25 de Abril de 1974 votaram ao enorme esforço desses tantos rapazes do meu tempo, que, aliás, foi altruísta, abnegado e patriótico, como seria impossível agora!
– E se nós, salvadorenses de hoje, tratássemos de honrar e homenagear essa gente, com um singelo monumento na nossa terra?
segunda-feira, junho 21, 2010
A cantareira

Nas prateleiras cimeiras eram alinhadas as mais vistosas louças da família, que, na maior parte dos casos, consistiam em alguns pratos e tijejas, púcaros, travessas e pelanganas, de feira, pintados com motivos campestres e saborosas quadras populares, como esta: Os pratos da cantareira / Estão sempre tlim-tlim / Assim é o meu amor / Quando está ao pé de mim.
Toda a cantareira era como uma espécie de montra, bem cuidada e ornamentada, onde a dona de casa se revia: alvos panos de linho ou de renda a cobrir os cântaros; artísticas e coloridas tiras de papel recortado (às vezes de jornal) pendiam das prateleiras, enfeitando-as. Pela cantareira se avaliava também a solidez do lar e a função incomparável da mulher e da mãe na família daquele tempo: Vai beber à cantareira / A silva que nasce na escada / Sempre parece solteira / A mulher que é bem casada.
sexta-feira, junho 11, 2010
Hoje como ontem

Vozes se levantam a toda a hora, clamando contra a má distribuição da riqueza (que deveria ser de todos), que o mesmo é dizer contra a má repartição dos sacrifícios impostos pela citada crise (que deveriam caber, também, a todos).
Vivemos nós tempos modernos, onde se fala em democracia, em igualdade de oportunidades, de direitos e de deveres, bem como noutras maravilhas antes desconhecidas.
Nos nossos tempos de juventude, no nosso Salvador, vivia-se a agora chamada ditadura obscurantista dos meados do século passado, e a localidade era uma apagada aldeola raiana da Beira Baixa, apesar de rodeada de searas, de floresta, de vinhedos e olivais, entretanto quase erradicados.
Mas já havia as tais vozes que clamam no deserto, inacessíveis à surdez dos políticos. Repare-se no verso seguinte, do livrinho da imagem, escrito em 1949 pelo guarda-fiscal e poeta popular António Vaz Leitão (1898-1977), um monsantino que passou grande parte da sua vida em Salvador:
Eu gostaria de saber,
Tanto parasita a comer
Sem pensarem noutra lida,
Se quem trabalha honradamente
Tem obrigação permanente
De os governar à boa vida?...
sábado, maio 29, 2010
Entre Monsanto e Penamacor

Os salvadorenses mais idosos, porque viveram um tempo de horizontes menos vastos e flexíveis, ainda se lembrarão bem de que existia uma relação muito forte e próxima entre Salvador e Monsanto, muito maior do que entre Salvador e Penamacor.
De facto, verificava-se naquele tempo uma grande fusão familiar salvadorense-monsantina, sobretudo nos lugares do Pomar e da Serra, como era, também, bastante comum os de Salvador terem propriedades agrícolas no limite de Monsanto, e vice-versa.
Monsanto ficava a metade da distância de Penamacor, o que também pesava no sentimento das pessoas. Ia-se a Monsanto, ao mercado, para comprar uma simples peça de louça ou uma ferramenta; a Penamacor já só se ia às feiras mais importantes, já porque os seus mercados eram menos fartos, já porque a distância era bem maior e menos prática para ir a pé.
Era ainda de Monsanto que se mandava vir o médico ou a parteira, e era aqui, também, que se encontrava o terminal de camionagem habitualmente usado nas deslocações para Castelo Branco, para Lisboa ou para outros destinos.
Hoje em dia tudo é diferente, e os mais novos só saberão destas coisas se os mais velhas lhas contarem.
quinta-feira, maio 13, 2010
Quinta-Feira da Ascensão
A única actividade permitida, manhã cedo, era a conhecida apanha da espiga, que consistia num ramo de folhas e flores campestres simbolizando o pão, o azeite e o vinho, bem como o milagre da vida, sempre renovado em cada primavera.
A missa evocava a ascensão de Jesus Cristo aos céus, e um silêncio de paz invadia os salvadorenses do tempo dos nossos avós. O meio-dia era «a hora». Dizia-se, então, que, a essa hora, os ribeiros paravam de correr, que o leite parava de coalhar, que o pão não levedava e… que nem os passarinhos iam ao ninho. «Nada bulia», era o termo utilizado.
A «espiga» era pendurada na cantareira até ao ano seguinte. Entretanto funcionava de tamismã para que não faltasse o pão e o azeite, e de amuleto contra as intempéries e os azares. Em caso de trovoadas, uns pedacinhos da espiga lançados no lume, apaziguavam os elementos enfurecidos.
Uma tradição deste dia, que o Salvador doutros tempos acarinhava, e que não era muito comum noutros lugares, era a largada de passarinhos, normalmente andorinhas, na igreja, à hora da missa. As avezinhas cruzavam, assustadas, o interior do templo, em todas as direcções, até que conseguiam dar com uma saída para o exterior.
Estas tradições, hoje praticamente perdidas, explicam a inocente e pura consciência dos nossos antepassados rurais, no seu apego à divindade e à terra-mãe, que, ciclicamente, lhes revovavam a paz, a esperança, e lhes propiciavam o «pão nosso de cada dia».
sexta-feira, maio 07, 2010
Dois salvadorenses ilustres

Através do referido bilhete-postal, de 14 de Setembro de 1916, correspondem-se sobrinho e tio (o assunto da correspondência é irrelevante), um em Salvador e outro em Coimbra. São, respectivamente, José Vicente Lopes (1897-1969) e José Candeias da Silva (1887-1959).
José Vicente Lopes, aqui com 19 anos, viria a ser professor de instrução primária, de grande saber e competência, formador de várias gerações de salvadorenses, que beneficiaram das sua forma insinuante de ensinar e do seu impecável exemplo moral e cívico. Foi ainda um devotado servidor do povo da sua terra, durante longos anos, através da prestação de diferentes serviços públicos – cargos gratuitos naqueles recuados tempos! –, nomeadamente a Junta de Freguesia, conseguindo o salto qualitativo da água e da electricidade ao domicílio, do telefone, do transporte público colectivo, dos arruamentos, da estrada e dos caminhos, colocando o Salvador a par das outras aldeias mais progressivas da região. Distinguir-se-ia, ainda, nos sectores agrícola e industrial. No primeiro, são de assinalar a modernidade dos seus métodos, com os quais obtinha boas produções e excelentes vinho e azeite; no segundo, foi inovador na mecanização da moagem de farinhas, estabelecendo, em Salvador, uma unidade fabril que moía os cereais da terra e de muitas outras terras das redondezas. Temos a promessa da autarquia de eternizar a memória do professor José Vicente Lopes, como figura de referência de Salvador. Aguardamos ansiosamente.
José Candeias da Silva tinha nesta data 29 anos incompletos e finalizava o curso de Direito na Universidade de Coimbra, cidade onde já obtivera o curso do magistério primário (1912), iniciado em Viseu… depois de ter deixado o Seminário da Guarda, onde chegara a receber ordens menores e de subdiácono! O bilhete-postal trata-o por doutor, o que, aliás, confirma idêntica forma de tratamento que tivemos oportunidade de constatar noutros documentos. Teve, em Coimbra, condiscípulos que seriam mais tarde célebres, como Oliveira Salazar e Gonçalves Cerejeira. Era homem de vasto saber, como atestam duas sebentas que publicou, intituladas Economia Social e Sucessões. Inesperadamente, e sem que nada o fizesse prever, Candeias da Silva abandonou Coimbra e os estudos, regressando a Salvador, em 1918, onde passou o resto da sua vida. Estava demente. Era, apesar disso, uma figura popular, respeitadora e muito respeitada por todos. Nos momentos de alguma sanidade mental, recolhia-se em casa, vagueando de noite pelas propriedades da família. Há provas de que escrevia muito. Fazia-o diariamente, em agendas e papéis dispersos. Coisas sem nexo misturadas com nacos de escrita erudita. A maioria dos seus escritos foram destruídos por familiares, por ignorância. O neto Libério, que viveu na Alemanha, é que conseguiu alguns, poucos, escritos desgarrados, nomeadamente notas tipo diário e versos sobre a Santa Sofia e a Senhora da Azenha.
quarta-feira, abril 21, 2010
Mês de Abril

quinta-feira, abril 15, 2010
Notáveis de Salvador

À esquerda do jovem sacerdote está o professor José Vicente Lopes, educador exímio de gerações de alunos, que dele receberam uma 4.ª classe de elevado nível, e autarca competente e dedicado, responsável pelo nosso salto qualitativo duma aldeia significativamente atrasada, para uma povoação dotada das condições básicas de água, luz, telefone, etc. No lado direito vemos o doutor Júlio da Gama Moutinho, sobrinho e herdeiro de D. Júlia Gama, antiga grande proprietária de terras em Salvador e que ficou recordada como sua benemérita. O sobrinho herdar-lhe-ia também esta qualidade, devendo-se-lhe várias doações aos salvadorenses: de terrenos para fruição pública (extensão do cemitério, instalações desportivas...), e da sua própria residência senhorial, para instalação do Centro de Dia de Salvador.
O ancião que vemos à esquerda da foto é João da Cruz Monteiro, que teve em Salvador um grande estabelecimento comercial, onde se podia comprar de tudo, e, por isso, atraía imensa clientela das redondezas, incluindo do lado de lá da raia, facto que contribuiu para que a nossa terra fosse bastante concorrida e positivamente conhecida. Seu filho Francisco da Cruz Monteiro (atrás de si na foto) daria seguimento à referida actividade comercial.
À frente, à nossa esquerda, vê-se o padre António Robalo Ramos, que foi pároco de Salvador durante cerca de vinte e cinco anos e pessoa muito considerada por toda a população.
Participantes na missa nova, vêem-se ainda outros sacerdotes, todos com alguma ligação a Salvador ou ao novo padre. São eles: padre Baltasar da Ressurreição, padre César Fatela, padre Jaime Soares Ribeiro, padre Artur Ribeiro e padre António Crespo.
domingo, março 28, 2010
A visita pascal ou «as boas-festas»

Na imagem, o sacerdote é o padre Jaime Soares Ribeiro (substituído em 1945 pelo padre António Robalo Ramos) e o menino da campainha é o futuro padre Henrique da Cruz Monteiro, já várias vezes referido neste blogue, e único padre nascido em Salvador, até ao momento.
domingo, março 21, 2010
Casamento na Páscoa


Acabavam de ligar as suas vidas pelo casamento, num acto feliz em que foram acompanhados por grande número de convidados, familiares e amigos. Infelizmente, o Manuel partiria precocemente, numa altura em que ainda era grande a esperança de vida.
Não o suspeitariam os noivos nem os convidados, mas uma efeméride curiosa, deste dia 7 de Abril de 1969, foi a criação da ARPANet, no Pentágono (EUA), para ligar bases de dados militares. O extraordinário desenvolvimento que se seguiu, culminaria, em cerca de uma década, com o surgimento da Internet, que em cada momento interliga muitos milhões de pessoas e que nos permite, a nós, a partilha destas interessantes imagens.
domingo, março 14, 2010
Nos anos quarenta

A senhora do centro é a Dona Margarida Robalo, filha do antigo comerciante José Robalo da Cunha, senhora muito considerada e, então, companheira do Padre Zé – feitor da rica Casa Seabra –, que, não sendo salvadorense, foi um grande e dedicado amigo da nossa terra.
À sua esquerda, vemos a «Menina» Mariazinha Monteiro, filha do comerciante João da Cruz Monteiro (e irmã do padre Henrique), que foi dedicada e extremosa catequista de imensas crianças, que a adoravam. Pessoa de reconhecida bondade, a sua morte, aos 40 anos, causou enorme consternação e deixou o Salvador de luto.
A outra personagem, menina prendada e estudante zelosa, é a Irene Lopes, filha do proprietário Rui Lopes, homem muito conceituado e esclarecido, que não hesitou em aplicar os seus rendimentos, e muitos sacrifícios, prioritariamente na educação superior dos seus três filhos (a seguir à Irene viriam o Helder e a Maria Adelaide), tendo-se em conta que, ao tempo, era extremamente difícil e dispendioso mandar filhos a estudar, para Castelo Branco ou mais longe ainda.
terça-feira, março 09, 2010
No balcão à fresca

quinta-feira, fevereiro 25, 2010
Padre Henrique

Era meio-dia de 12 de Abril de 1953. A igreja matriz de Nossa Senhora da Oliveira foi demasiado pequena para toda a gente que queria assistir à celebração, e muitos ficaram lá fora, povoando o adro.
Nesse dia o Salvador estava em festa e registava um movimento extraordinário, já pelo acontecimento em si, já porque a família do jovem padre gozava de grande consideração na nossa aldeia e nas povoações vizinhas.
Finda a missa, uma multidão de gente dirigiu-se para junto da casa da Família Monteiro, em atitude espontânea de carinho e de júbilo (ver post de 24 de Março de 2008).
Para além do almoço que a família ofereceu aos convidados, o novo sacerdote fez questão de que fosse servida, também, uma refeição aos pobres de Salvador, numa manifestação de grande religiosidade e de humanismo, que o caracterizariam pela vida fora.
O padre Henrique, já octogenário e felizmente ainda entre nós, foi o único sacerdote católico que a nossa terra viu nascer até hoje. Este facto materializa apenas uma das muitas razões para que Salvador Barquinha d’ Oiro: blogue do Salvador de outros tempos aqui lhe deixe esta modesta homenagem.

quinta-feira, fevereiro 18, 2010
Nas férias grandes

A foto foi-nos enviada pelo ilustre conterrâneo e amigo, Padre Henrique da Cruz Monteiro, de cuja carta transcrevemos algumas linhas:
«Envio-lhe uma foto dos anos 40, de um grupo de jovens estudantes, que nas férias se encontravam no Salvador, para conviverem e fazerem passeios pelos campos, para gozarem da beleza da natureza e do ar puro que não encontravam nos meios citadinos.
Os rapazes: Amadeu Afonso, Henrique da Cruz Monteiro, Zeca Silva, Alexandre Cancelas, Aires Robalo e outro que não identifico.
As meninas: Hermínia Borges, Maria de Lurdes (Milucha), Ilda Silva, Fernanda Silva e mais duas que não identifico».
Obrigado ao Padre Henrique, que assim vem enriquecer este blogue com mais um saboroso momento dos bons velhos tempos do nosso Salvador.
terça-feira, fevereiro 09, 2010
O fato de «guardar»

Estes rapazes, todos eles já a contas com a tropa, passeavam a sua dispensa de fim-de-semana estrada acima, em busca de sítio asado para tirar o retrato.
Passavam à Senhora de Fátima quando repararam neste belo Morris Minor, que preenchia, à maneira, um belo fundo para a imagem. E ninguém diz, cinquenta anos passados, que o automóvel não era seu e que não tinham chegado de um agradável passeio por entre as covas e os caramouços de brita da macadamizada e sinuosa estrada do Salvador para as Aranhas.
Só não me lembro é se o baile era lá ou se era cá.
quinta-feira, janeiro 28, 2010
Eram meninas

Foram passear até à capela de Santa Sofia, como era hábito «sagrado» nos domingos à tarde. Atrás está a Lurdes Leitão, a Milúcia, a Alda Peres e a Maria Alice Afonso; à frente vemos a Patrocínia Ferreira e a Maria Augusta Afonso.
Alardeiam beleza e juventude, e sorriem-nos as promessas de futuro que ficaram registadas nesta bela imagem.
Algumas já nos deixaram, mas poderemos ver aqui como elas eram, todas, graças a esse extraordinário invento que foi a fotografia.
A foto foi cedida pela Maria Alice.
quarta-feira, janeiro 20, 2010
Prof. José Vicente Lopes – a homenagem que falta

Numa altura em que raros alunos tinham oportunidade de prosseguir estudos, a preocupação do Professor era dotá-los com diferentes conhecimentos, que não se ficavam pelos programas oficiais, mas, antes, abrangiam uma gama imensa de teorias e práticas essencialmente dirigidas aos problemas que a vida real poderia colocar às crianças de 11 ou 12 anos que deixavam a escola e, subitamente, se encontravam perante a vida activa, num tempo e numa terra em que, para almejar um emprego, havia que emigrar, no mínimo, para Lisboa.
O professor José Vicente Lopes, quando saia da escola, ocupava, ainda, a maior parte do seu tempo em tarefas e serviços prestados aos seus conterrâneos, como sejam funções na Junta de Freguesia, no Posto do Registo Civil, no juizo de conciliação e solução de conflitos entre vizinhos, ou em muitos outros casos de ajuda e de conselho às pessoas que recorriam aos seus conhecimentos, prestígio e experiência. Todos estes encargos eram gratuitos, bem como as atrás referidas funções oficiais, ao tempo não remuneradas.
Em vida, José Vicente Lopes foi condecorado, pelo Presidência da República, com a Ordem da Instrução Pública, e também muito justamente homenageado pelos seus alunos. Porém, ele foi, sem sombra de dúvidas, uma das maiores figuras de Salvador, tendo marcado a sua época de forma indelével.
Mal vai a terra-mãe que não honra os filhos que a dignificam e engrandecem.
O professor José Vicente Lopes merece que o seu nome seja devidamente gravado na sua terra, para que o seu exemplo, tão presente na memória daqueles que tiveram a dita de o conhecer, fique também na história de Salvador e perdure pelas suas futuras gerações.
domingo, janeiro 10, 2010
1.ª Comunhão

A imagem de hoje mostra um lindo grupo de jovens, infantes e adolescentes, num ambiente de primeira comunhão, que era, então, um acontecimento de grande importância na pacatez social das nossas aldeias, ansiosamente aguardado pelas crianças, carinhosamente preparado por párocos e catequistas, atentamente acompanhado pelos pais e pelos professores e um espectáculo dominical a não perder por toda a população.
A felicidade e a alegria estão estampadas nos rostos dos retratados, sem dúvida abençoados por um daqueles claros e luminosos dias primaveris, que o nosso próprio imaginário mantém, ainda bem vivos, do Salvador de outros tempos.
Foto (1960?), cedida pelo Frederico Nuno Vicente Lopes